sexta-feira, março 27, 2009

Histórias de gente de carne e osso

Sentia a alma presa entre um passado que lhe fugia das mãos e um futuro que parecia finito.

Os pais envelheciam. A demência carcomia a sanidade, roubava o sentimento de segurança daqueles seres que sempre tinham lá estado. Onde estavam agora? Porque se fica assim, só, sem poder viver a zanga, sem saber dizer a dor? Como se cuida um corpo que cuidou outrora de nós? E que corpo é este que jaz frágil numa cama, que solta gemidos em vez de palavras? E onde estão os teus olhos? Porque não me olhas mais?

E os filhos... que não geram outros filhos!
A linhagem acaba? Não tenho futuro para além de mim?

Luto contigo meu amor, porque não aguento mais.
Preciso pôr o meu ser dorido em qualquer lado, e és tu meu amor que me suportas. Hoje, antes, e neste futuro que me parece tão curto!

Queria poder parar. Só um instante, entender o que me suga a alma, num pensamento frio, lúcido, sem dor!
Mas sei-me pássaro ferido.
Só o doce toque da esperança trará um sopro de vida a este corpo sofrido.

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