Ligia estava a ouvir aquela canção.
Não parava de pensar como havia pessoas que tinham a felicidade de respirar música. Aos olhos dela havia aqueles seres estranhos que se alimentam de notas, pautas, escalas. Estranhos mas fascinantes que pensavam em colcheias, claves, fusas e semi-fusas. que conseguem traduzir em pequenos símbolos, os sons, histórias, afectos. E os poemas que, declamados a cantar, se revelam enamorados das notas e delas se tornam inseparáveis.
E há músicas que lhe falam dela.
Há letras que parecem ter sido escritas com profundo conhecimento do que ela sente.
Como é possível que outros, tão longe, tão estranhos, tão diferentes, sintam da mesma forma as secretas inquietudes.
Perene poesia, inolvidável melodia.
E ali fica, a ouvir traduzidas as suas entranhas, a pedir emprestadas palavras, a ouvir a harmonia de afectos tão seus.
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