A Rita deixou-se estar deitada em cima da colcha da cama.
Tinha-se já arranjado para sair.
Um vestido azul escuro, quase preto, corte discreto, com um decote generoso nas costas.
Sabia que lhe ficava bem.
Conseguia com ele o ar destinto que precisava para aquela noite.
Por momentos ia ter de se esquecer que ele "morava ainda no seu peito".
Two women siting at a bar 1902 Pablo Ruiz y Picasso |
Hoje tinha de estar perfeita.
Quase não reconhecia a mulher que a olhava de volta no espelho. Não pela maquilhagem que quase nunca usava, nem pelos brincos clássicos tão diferentes dos que usava no dia a dia. Sentiu a falta da centelha que lhe iluminava os olhos. Tinha-se ido com ele.
Quase se irritava ao sentir-se tão reconhecida naquela voz stereo que enchia o quarto.
Mas a música mentia. Que ambivalência!
Ela não tinha querido partir.
E sabia-se num tumulto por de trás da aparência seráfica.
Hoje ia vê-lo.
Iam sentar-se frente a frente como pede o protocolo.
E Rita sabe! Que querendo, ele a desmonta em três tempos.
Que o tempo perde o lugar.
Que basta um toque para da nascente jogar tudo de novo.
Respira fundo. Isso não vai acontecer!
Não sabe o que se passa dentro dele. Se calhar…. nada!
O carro chegou.
Está na hora
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