Hoje está lua cheia.
Senta-se numa cadeira cá fora e perde-se em pensamentos soltos enquanto olha o vale sob esta luz algo mágica, que o transporta algures para dentro de si próprio.
Não sabe definir ao certo se o que o assalta é calma, cansaço, nostalgia, serenidade, ou será um toque de tristeza? Na verdade não lhe interessa nada definir seja o que for.
É de alguma forma doce o que sente, e isso chega-lhe!
Há alturas em que a solidão o assalta, não é a conversa que lhe falta, são exactamente os silêncios partilhados, o demorar-se à janela dos olhos de alguém, o toque de um corpo quente, mas são raros esses dias. Volta e meia dá consigo, nos dias intensos no reboliço da cidade, a querer voltar para este seu reduto, de um silêncio escolhido, de uma paz genuína.
Hoje, sabe-se acompanhado, mesmo que sozinho com a imensidão da noite.
É uma certeza tranquilizadora:
"As pessoas, na verdade, são os verdadeiros lugares a que pertenço"
Que coisa ambivalente esta, onde se misturam o desejo de solidão, e a certeza inequívoca que só se existe quando se mora dentro de alguem(s).
Ouve-se uma coruja ali bem perto.
Leva a mão ao lábio superior para afastar os pelos do seu bigode.
"Tenho de aparar o bigode amanhã!"
É como se mudasse repentinamente a melodia.
Levanta-se devagar, mas decidido.
Está na hora de dormir.
(...)
Entra a primeira luz da manhã por ele a dentro.
Mesmo de olhos fechados, pressente o dia que acorda, como se as pálpebras falhassem a sua missão de o manter dormindo.
Demora-se embalado no canto dos pássaros que ignoram ostensivamente a sua presença.
Sim, é paz que sente!
Levanta-se, demora-se a olhar-se ao espelho, reconhece-se.
Adivinha um sorriso a espreitar no canto dos seus próprios lábios.
Bem, se calhar está na hora...
Tesoura!
Vamos tratar do bigode!
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