terça-feira, junho 20, 2017

Quando morre uma criança.



Hoje tenho de comunicar a uma criança a morte de duas.
Hoje tenho de introduzir, como real, a ideia terrífica da finitude, não dos velhos, nem dos doentes, mas dos amigos com quem se brincava ontem no recreio da escola.
Hoje as notícias da televisão e da rádio vão entrar pela porta da frente da minha casa. Sem pedir licença, sem saberem se é oportuno, vão emiscuir-se para sempre nas memórias de infância.
Ê assim a morte. Nunca pede licença, nunca é oportuna.
Hoje vou querer proteger, segurar, unificar, sarar, o que a realidade, dia após dia, desfaz, parte, destrói, arrasa.
Hoje há uma criança que vai ter de crescer. 

E nas outras casas, umas que conheço, outras não, a cena vai replicar-se.
Crianças vão saber que outras duas não vão voltar nunca.
E um traço de angústia vai ficar desenhado no percurso de todas elas.

(Amanhã será a vez dos professores, explicarem, responderem, conterem, lidarem com as perguntas que forem capazes de ser formuladas. Será seguramente um dos dias mais difíceis desta escola. Só posso agradecer antecipadamente o vosso cuidado! - aos professores que tanto gosto)


4 comentários:

  1. Coragem! Por incrível que possa parecer, às vezes, as crianças reagem de forma mais sensata (e até natural) que os adultos. Se calhar, estou a dizer uma barbaridade, e se for, peço já desculpa.

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  2. Não sei responder-te. Vão surgindo do nada afirmações, perguntas, "mãe, tenho pena deles", "mãe, os pais também morreram?", ...
    Terá o seu tempo e a sua forma de ir integrando e elaborando esta informação.
    Resta-nos ir respondendo o melhor possível
    É a vida/morte/realidade que se impõe.

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  3. As crianças fazem perguntas atrás de perguntas e pais, professores e avós deverão responder com verdade mas sem dramas porque sim! Não consigo dizer mais nada!

    Beijos e abraços

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