quinta-feira, março 01, 2018

A tua Luz Fantasma

Não posso dizer que foi com surpresa que recebi a noticia que tinhas editado um livro. Não que estivesse à espera, não é isso! É que não fazes parte dos meus dias há já um par de décadas e perdi o rasto aos teus projectos.
Na verdade não sei se realmente lhes tive acesso alguma vez. Sempre foste algo fugidio, com a tua timidez disfarçada, e homem de afectos contidos. Mas de afectos! (ou será isto apenas uma projecção minha, de quem se dava tanto dando aparentemente tão pouco?)
Mas fazes parte da minha história de forma indelével (gosto muito desta palavra - indelével - algo que não se pode apagar ou fazer desaparecer). Daqueles anos últimos de adolescência tardia em que nos fazemos homens e mulheres. Em que aprendi a ser quem sou hoje. E tu e a T são uma marca que acarinho, preservo, nutro. 
Já tive oportunidade de te dizer que li este livro como nenhum outro. É que conheço bem a tua voz (que não oiço com regularidade há mais de 20 anos) e foi ela que me acompanhou num folhear sem pressas. Reconheci-te em todas as palavras, mesmo nas histórias que me surpreenderam
Às vezes senti-me a espreitar pelo buraco da fechadura, Voyeur da tua intimidade, em lugares a que um amigo não teria acesso. Mas já não temos 20's, temos 40's... e a vida já se encarregou de nos mostrar que o prazer e o amor, andando ou não a par e passo, são o que fazem os dias ter textura, sabor e cor.
Tive amiúde dificuldade em desligar-me de uma história e mergulhar rapidamente noutra. Mais que uma vez recomecei, depois de me obrigar a despedir-me das personagens e afectos das páginas anteriores.
Outras, são como as letras das tuas músicas.
Queres saber que histórias me surpreenderam?
Imagino que sim. " O homem que não consegui controlar a intensidade da sua voz" por exemplo. Ou a "Viagem de autocarro". Surpreendeu-me que brincasses, muito mais do que a intensidade com que consegues descrever afectos - e por isso não me surpreenderam, mas contagiaram-me com tristeza ou urgência, ou ansiedade, histórias como "Janelas de Orchha", "Restos de ti", "Viagem", ...
Gostei muito de te lêr.
Sei que gostavas de uma crítica.
Disseste-me que querias a "minha critica". Fizeste-me sentir que valeria mais do que outras (sim, também tens o teu toque sedutor).
Não sei criticar-te.
O que te sei dizer é isto que escrevi. E tenho pena de ter perdido outras ideias que me foram surgindo enquanto te lia. 

(E confesso-te um sentimento mais intimo de uma certa inveja. Ri-me de mim mesma perante tal constatação!)

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