terça-feira, maio 15, 2018

Voltar ao lugar onde se foi feliz

Parei o carro em frente ao portão.
Apercebi-me que pouco a pouco deixei de cá vir.
A casa foi deixando de ser minha devagarinho, numa despedida silenciosa e delicada. 
De repente dei conta que há muito não me sento nas escadas da casa vazia com um livro nas mãos, pretexto tantas vezes usado para por aqui me demorar um bocado.
A casa não tem ruidos.
O cão já não ladra aqui, não há riso nem choro, não há música.
A casa não tem já a cor da minha desarrumação, a luz generosa que entra pelas janelas não encontra já o mesclado de tons fortes com que sempre me rodeei. 

Mas tem-me.
Ou tenho-a eu a ela nas memórias que trago.
De filhos ainda bebés, de festas, de momentos solitários, de acidentes domésticos, de musicas, de feijoadas, grelhados, caris, de cerejas...

Mas estranhamente tenho ainda aqui as minhas orquídeas.
Dão-se bem nestas janelas, ecossistema favorável, de luz, humidade, calor.
Venho rega-las de vez em quando (muito menos vezes do que devia) e penso sempre que tenho de as levar....
São a parte de mim que aqui ficou. De pedra e cal!

Vou ver a caixa do correio.
E saio sem saber quando voltarei.

(Escritura de venda dentro de sensivelmente 1 mês)




3 comentários:

  1. Pudera eu fazer o mesmo, embora saiba que dói para caramba o saber que cada vez se torna mais longe (não uso impossíveis) desse sonho.

    Boa sorte com a venda e segue em frente porque não tarda nada andas às voltas com os netos:))))

    Beijocas miúda e leva as orquídeas...tadinhas!

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  2. Um ciclo que se fecha, outro que se abre.
    É a vida a acontecer.

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  3. Tenho pena às vezes de saber que não vou poder voltar, nunca mais...
    E por uma complexidade de razões perguntem se tomei a decisão certa.
    Mas a vida é isso - andar para a frente - levando o passado connosco.

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