quinta-feira, outubro 25, 2018

Mutualidades (acho que nunca tinha escrito esta palavra!)

Depois do almoço conversavamos na esplanada com acesso à praia.
O dia tinha nascido encoberto, algumas nuvens pesadas choravam aqui e ali, como se um timbre de guitarra portuguesa tivesse finalmente lembrado que o Outono já tinha dado entrada no calendário.
Agora, o céu aberto, deixava que o sol aquecesse a pele, e pudessemos desfrutar desta companhia há tanto desejada.

O Hugo, do alto dos seus 2 anos acabados de fazer, estava inevitavelmente mais atraído pela praia, com o seu extenso areal, e um mar imenso de um azul outonal (que o Outono não é só pintado a laranjas e vermelhos!) que só encontrava par no azul dos seus olhos atentos.
Aventurou-se no seu passo ainda incerto até ao limite da esplanada.
Os olhos postos no mar.
Os grandes degraus algo desencontrados e inclinados eram um desafio. Ensaia um passo. Avança. Mede mais uma vez, demoradamente, o desconhecido da praia deserta. Mais uns passos. Mais um degrau. É assim lentamente que chega à praia.
Pára.
Se calhar já chega.
Em nenhum dos passos que deu procurou o olhar da mãe, ia testando os seus limites, descobrindo a medida certa entre o desejo e o medo do desconhecido. A aventura a partir dali requeria companhia. Ficou parado, com o mar ainda longe demais. Atento. Voltaria mais tarde para pegar na mão do pai e aventurar-se na praia.

Eu estudava a mãe.
Estava atenta mas tranquila.
Conhece o seu menino. Está segura.
E deixa-o ir enquanto conversa, no prazer de reencontrar velhos amigos.
Acabamos por falar sobre isso.
Heis que ela me diz:
- lembras-te daquela vez que fomos ao IKEA e a S (1,5 ano) veio connosco?
Não fazia ideia ao que ela se referia.

Uma situação idêntica.
A S a explorar, numa tarefa ousada para a sua idade, e eu tranquila a observá-la de longe.
E esta mãe, que eu ali observava com algum encanto diz-me:
- Naquele dia pensei "quando for grande quero ser assim!"

A situação inverteu-se!

:)
Vais ser melhor!

3 comentários:

  1. Saudades desses tempos de contemplação dos filhos que se fizeram adultos !... a história repete-se mais uma única vez (?), agora com os netos !!!

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  2. Deixar correr riscos mas sempre atentos foi a minha postura com as filhas e agora com os netos.

    Só te conto isto: A minha filha mais com nova tinha fascínio com a caixa de fósforos e ver aqueles "dedinhos" a manusear era obra. Esgotado o "não" um dia deixei-a ir ao extremo e claro queimou-se um bocadinho. Nunca mais pegou na caixa e quando me via acender o fogão dizia: mamã...dói-dói:))) Tinha três anos.

    Beijocas e um bom fim de semana

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