quarta-feira, junho 05, 2019

Casa da mãe / Casa do pai

Têm-me perguntado algumas vezes qual a minha opinião sobre a regulação do poder paternal, nomeadamente no que diz respeito à residência alternada.
Não tenho trabalhado com crianças nos últimos...17(?) anos, pelo que nunca me foi pedido um parecer oficial, e ainda bem!
De qualquer forma é impossível não ir pensando sobre o assunto.
Hoje dei com este artigo de 28 de Maio do público: https://www.publico.pt/2019/05/28/sociedade/opiniao/vamos-conversa-residencia-alternada-1874041
Fiquei até aliviada. Porque me parece que aqui o bom senso impera!
É claramente explicado que a actual legislação protege o interesse da criança e que tornar a residência alternada a resposta padrão tem perigos muito maiores do que deixar sossegada uma lei que funciona.

A minha experiência com adolescentes (nota importante: os que chegam a minha consulta têm um
nível de sofrimento elevado e por isso não devem servir de norma), mas como dizia: a minha experiência com adolescentes diz-me que é difícil não ter “um sítio”, um lugar/quarto/casa que seja sentido como “meu”.
O ter tudo a duplicar é uma ilusão. Há sempre uma coisa que está no “outro lado”, e mais, o sentimento de que aquelas coisas do foro “privado” estão sempre em perigo é uma constante.
Não há lugares seguros. Os quartos são abandonados à sorte dos voyers a cada semana, ficando livres para a devassa, de quem entra para limpar, arrumar, remexer.
Vejo muitas vezes nestes jovens o desejo de um espaço fixo, só seu, muitas vezes longe de pai e de mãe, em que não tenham de carregar ciclicamente os seus tesouros (representantes simbólicos da sua intimidade) consigo.

Cada caso é um caso.
Não facilitemos as vidas de advogados e juizes, criando uma regra redutora - e desnecessária, - quando o que há a salvaguardar é sem dúvida o bem estar do menor.
Nunca é demais repetir que cada criança é diferente de qualquer outra, que cada família tem um funcionamento único, e que por isso qualquer generalização será um retrocesso.

2 comentários:

  1. Mais do que a residência alternada choca-me a tentativa dos pais desavindos em influenciar negativamente os filhos face ao outro.
    Bfds

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  2. Subscrevo o comentário do Pedro Coimbra e digo mais: triste, mas triste mesmo +e os adultos/pais andarem em guerras sem pensarem minimamente nos filhos usando-os apenas como "sacos de feijões".

    No meu divórcio de comum acordo e já lá vão 26 anos, quando o Juiz lia a "divisão" das filhas os tais dias, festas, natais...eu interrompi-o e disse em alta voz que não iria cumprir nada daquilo. Que ele não deixou de ser pai, que as amava como eu e que poderia estar com elas sempre que quisesse e elas concordassem porque não era meras encomendas de sacos de feijão. Os cinco anos a seguir correu tudo bem até ao dia que infelizmente morreu.

    Os adultos devem ser educados mas não sei a forma de o fazer porque em muitos divórcios todos falham incluindo organismos que deveriam ser mais sérios e céleres e os filhos passam a infância e adolescência em guerras que não aceito e compreendo.

    Beijos garota linda

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