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5 de Abril de 2012, Tamara saiu de Belgrado no primeiro comboio da manhã.
O nevoeiro cobria
o Danúbio como uma ilustração perfeita do que se passava den tro dela.
Chegou a Sarajevo no final do dia.
O sol desaparecia por entre os prédios e algumas nuvens pesadas tornavam mais escuro o entardecer.
Na avenida arrumavam-se as cadeiras vermelhas(*), perfilavam-se alinhadas numa precisão solene, no que parecia uma plateia sem fim, para um espetáculo a que os expectadores não poderão comparecer.
Um sem fim de nomes, cuidadosamente enumerados e ordenados, ladeiam a avenida, o último tem o número 11.541- os mortos na guerra que se iniciou há 20 anos.
O sol desaparecia por entre os prédios e algumas nuvens pesadas tornavam mais escuro o entardecer.
Na avenida arrumavam-se as cadeiras vermelhas(*), perfilavam-se alinhadas numa precisão solene, no que parecia uma plateia sem fim, para um espetáculo a que os expectadores não poderão comparecer.
Um sem fim de nomes, cuidadosamente enumerados e ordenados, ladeiam a avenida, o último tem o número 11.541- os mortos na guerra que se iniciou há 20 anos.
O nome da mãe de Tamara não está na lista.
Branka tinha estado do lado de fora do cerco, soldada das forças sérvias,
morreu a cumprir ordens de quem cobardemente se serve de outrem para uma missão
suicida. Recolher os feridos, deixar para trás os que morreriam. Brincar de
deus, salvar apenas alguns. Uma tarefa feita com o medo a correr nas veias, com
a angústia a apertar no peito, com uma força de braços que lhe vinha das
entranhas, sabendo que a vida de cada soldado dependia da sua decisão – do
caminho que escolhia, da tenda para onde o levava, da urgência e determinação dos
seus actos.
Não há na avenida uma cadeira para ela.
O grupo coral ensaia para o espetáculo de amanhã, canta “Porque não estás
aqui?”.
As lágrimas correm silenciosas pelo rosto de Tamara.
Imagina uma cadeira preta no meio de todas as vermelhas, que pudesse trazer todos os mortos do outro lado. Imaginou-se a escrever todos os nomes dos soldados sérvios com uma caneta preta numa das cadeiras até que não sobrasse nela um resquício de vermelho.
Mas não poderia nunca tirar o lugar a nenhum dos expectadores ausentes.
Está lá ela!
Na vez de todas as cadeiras negras.
As lágrimas correm silenciosas pelo rosto de Tamara.
Imagina uma cadeira preta no meio de todas as vermelhas, que pudesse trazer todos os mortos do outro lado. Imaginou-se a escrever todos os nomes dos soldados sérvios com uma caneta preta numa das cadeiras até que não sobrasse nela um resquício de vermelho.
Mas não poderia nunca tirar o lugar a nenhum dos expectadores ausentes.
Está lá ela!
Na vez de todas as cadeiras negras.
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(*) A 6 de
Abril de 2012, para marcar o 20º aniversário do inicio da guerra da Bósnia, exatamente 11.541 cadeiras vermelhas foram
perfiladas, por mais de 800 metros, na principal avenida de Sarajevo, capital
da Bósnia-Herzegovina, uma para cada homem, mulher e criança mortos no cerco
que acabou por ser o mais longo da história moderna, durou 44 meses. A
população de 380 mil pessoas foi deixada sem eletricidade, água ou
aquecimento e atacada por 330 bombas por dia. Uma guerra que
deixou mais de 100 mil mortos e mais de 2,2
milhões de refugiados e deslocados, a metade da população da época.
Gostei mesmo muito, chamou a minha atenção para algo de que conheço demasiado pouco e essa mulher, ou as duas, mãe e filha, aparecem como reais e corajosas (gostei mais do que daquele que teve a pontuação máxima)
ResponderEliminarobrigada
Obrigada Redonda!
ResponderEliminarQue querida!
Sabes, entro nestes concursos porque às vezes preciso de um estimulo para escrever.
Não aprecio particularmente o júri... ou melhor... não têm o estilo de escrita que mais aprecio (assim é mais politicamente correcto...)
Dois gostaram muito deste texto, o 3º não gostou nada,
Está no seu direito!
E confesso que tenho preguiça e nem vou ver os textos vencedores....
(OK, estou a parecer um bocadinho pedante.....- calo-me!)
Ahahaha