(mais um texto do campeonato de escrita criativa)
O telefone tocou.
A voz da Ana, a enfermeira que o acompanha, diz-me, num tom indecifrável, que ele acordou.
O acidente foi na noite do meu 22º aniversário, o ano 2000 ia ser memorável... liguei-lhe para me vir buscar porque tinha bebido demais, uma daquelas saídas de rapazes com uma liberdade que naquele dia me foi roubada para sempre.
A voz da Ana, a enfermeira que o acompanha, diz-me, num tom indecifrável, que ele acordou.
O acidente foi na noite do meu 22º aniversário, o ano 2000 ia ser memorável... liguei-lhe para me vir buscar porque tinha bebido demais, uma daquelas saídas de rapazes com uma liberdade que naquele dia me foi roubada para sempre.
E o pai nunca apareceu.
Pego no casaco, na chave do carro e saio.
Como vou explicar que a mãe morreu?
Como vou explicar que a mãe morreu?
A dor daqueles meses infindáveis em que a vi definhar, e o abandonei a ele (quase não o visitei desde que a mãe partiu) acerta-me como um murro no estômago.
O dia está claro, o céu de um azul forte acolhe o sol de inverno, um dia lindo!
Desde quando a Primavera teima em chegar em pleno Inverno?
Desde quando a Primavera teima em chegar em pleno Inverno?
Olho para a fotografia do tablier, tirada apenas há uma semana, onde estou divertido com os meus dois filhos a fazerem tropelias.
Estou tão parecido com ele.
Não soube que casei, que tive dois filhos, que me divorciei.
Nada sabe das minhas dores nem dos meus amores.
Não soube que casei, que tive dois filhos, que me divorciei.
Nada sabe das minhas dores nem dos meus amores.
Assalta-me a presença da Rita, a mulher que deixei a dormir na cama desfeita esta manhã, a lembrança da sua pele fundida com a minha, num tumulto voraz e louco de corpos entregues sem tabus. São memórias corpóreas que trago comigo.
Que saberá o meu pai da paixão?
Que saberá o meu pai da paixão?
Os pensamentos sucedem-se agitados, incoerentes, descompassados, companhias fugazes no trajeto até ao meu pai.
Estou impregnado de uma culpa que pensava ultrapassada há muitos anos.
O pai nunca apareceu.
Não sei se tenho 22 ou 41 quando entro no quarto do meu pai.
Mas são quentes e grossas as minhas lágrimas, quando me vê diz a sua primeira palavra: “Pedro”.
Gostei muito!
ResponderEliminar(incrível termos pensado as duas no nome Pedro :)
Os Pedro evocam sempre doçura.
ResponderEliminarBfds
Adorei e comoveu-me bastante. Parabéns garota linda:)
ResponderEliminarBeijos