Heitor olhou e confirmou que estava na rua certa.
As tonalidades vermelhas que emanavam de todas as vitrines e se reflectiam na chapa dos carros e no asfalto molhado pela chuva fraca que caía, camuflavam os rostos das centenas de turistas que visitavam nesse dia o RedLight District.
Caminhou timidamente por entre os grupos de homens jovens eufóricos, de casais que passavam de mão dada, de gente que se ia passeando e conversando como se se encontrassem na Kalverstraat numa amena tarde de Domingo, e de um ou outro homem solitário como ele que paravam junto às montras de uma maneira diferente.
“It takes one to know one!” pensou.
Os casacos de inverno, os gorros, as luvas, serviam de camuflagem, contrastante com a quase nudez das mulheres que se exibem por trás dos vidros. São corpos que lhe são estranhos. Esse continente desconhecido do feminino encerrado no corpo despudoradamente exposto de cada mulher. Não consegue identificar bem o que sente. Desconforto, repulsa, uma espécie de horror que não consegue nomear.
Não consegue evitar pensar que todas aquelas pessoas, que de forma mais ou menos ordeira por ali andam, são, entre paredes, amantes, que se entregam ao descontrole do sexo, com corpos desarticulados e misturados.
Olha para os seus pés por uns momentos. Vê os seus ténis gastos aparecerem alternadamente um em frente do outro, e contando passos tenta dominar a ansiedade que vai crescendo.
Vinte metros à frente uma luz azul contrasta com o rubro da rua. Sente uma erecção involuntária, e uma excitação nervosa que o deixa meio perdido. Sente uma atração simultaneamente medonha e electrizante, impregnado de culpa e de desejo, de quem fez uma viagem inteira para poder provar o proibido.
A luz azul.
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E Heitor olhou.
Gostei muito mais deste Heitor!
ResponderEliminarHeitor, nesse caso, rima, também na vida além das letras, com despudor. Heitor se permite. Até que página? Fica a pergunta.
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