São 21h05 e sento-me ao computador para escrever.
Numa página em branco há um misto de vazio e potencialidade que me faz ter sempre a certeza de que as palavras que eu escolher ficarão sempre aquém.
Numa página em branco há um misto de vazio e potencialidade que me faz ter sempre a certeza de que as palavras que eu escolher ficarão sempre aquém.
Na procura de inspiração olho para a grande janela que ocupa toda a parede no topo do escritório.
Lá fora o breu absoluto. A pretura da noite, hoje opaca e turva, esconde o fulgurante verde da selva mais ou menos desalinhada que acarinho no meu jardim.
Lá fora o breu absoluto. A pretura da noite, hoje opaca e turva, esconde o fulgurante verde da selva mais ou menos desalinhada que acarinho no meu jardim.
Sei do contorno das árvores, do tom das suculentas, das flores que desenham os canteiros, e do chão cinzento em tijolos de cimento que a força das raízes moldou com o passar dos anos numa irregularidade que a mim apenas me evoca uma leve ternura.
Há poucas coisas com tanto futuro como o planear um jardim. Saber sonhar um jardim é uma arte, projectar fruto onde apenas há semente. Há o saber esperar pelo tempo certo de plantar, de regar, de podar, de moldar. E respeitar o tempo, e o temperamento de cada uma das peças que o tornam O Meu Jardim.
Sei do lugar dos formigueiros e das teias de aranha, sei das flores que as abelhas mais procuram, e dos galhos em que os pardais descansam.
Sei do lugar dos formigueiros e das teias de aranha, sei das flores que as abelhas mais procuram, e dos galhos em que os pardais descansam.
Mas agora tudo o que vejo é o meu próprio reflexo, que com as trevas se transmuta o vidro em espelho, e nada vejo para além de mim.
Nem um som me chega que me traga a vida que respira lá fora.
Olho para esse outro de mim que ocupa o espaço que deveria ser do jardim e constato que envelheci.
Este manto que a noite trouxe deixa-me sozinha comigo numa tranquilidade que há muito procurava.
Retomo à pagina que já não está em branco, sei que foi escrita pela mulher do vidro/espelho e por isso não ouso trocar uma única palavra.
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Up-date matinal
:)
Beleza poética neste lindo texto.
ResponderEliminarGostei muito
ResponderEliminarAcabei de ler o teu comentário lá e tive de voltar aqui de novo, eu sou demasiado sintética, quer nas histórias, quer nos comentários, porque achei o máximo o que escreveste, a beleza poética de que fala o Pedro em cima, acho que tenho uma boa imaginação mas o meu ponto fraco é o teu forte, ser capaz de escrever assim! Um beijinho e Parabéns é que são merecidos a ti por este texto
ResponderEliminarTemos poeta! :D
ResponderEliminarDeixar a pena fluir e... depois sai isto.
ResponderEliminarUma noite inspirada, Boop. Parabéns.
Gostei mais deste do que dos dois que tiveram a pontuação máxima
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