![]() |
Monsanto - Idanha a Nova |
Maria vai à janela e o olhar perde-se na chuva miúda que cai desde cedo.
A aldeia nestes dias veste-se de cinza prateado, as grandes pedras de granito impõem-se como as principais habitantes do lugar e emprestam uma tonalidade etérea ao casario. Como se fosse natural encontrar um centauro ao virar da esquina, ou uma fénix pudesse pousar no cercado ali perto.
Embarca nestes sonhos, embalada pela cadência da goteira, e evoca as histórias que avó lhe contava quando em pequena passava o verão em Monsanto.
Embarca nestes sonhos, embalada pela cadência da goteira, e evoca as histórias que avó lhe contava quando em pequena passava o verão em Monsanto.
Regressar é uma viagem sem bilhete num turbilhão de emoções.
A última vez que ali tinha estado, saiu com juras de não voltar. O aperto que sente no peito diz-lhe que, independentemente da vontade, ainda há demónios à solta.
A última vez que ali tinha estado, saiu com juras de não voltar. O aperto que sente no peito diz-lhe que, independentemente da vontade, ainda há demónios à solta.
Veste a capa de chuva e sai. Segue em passo apertado de quem sabe bem o destino, e vai sulcando a ladeira que a levará ao castelo.
(Tantas vezes fez este caminho com ele)
A sola das botas escorrega nas pedras molhadas.
Qual a validade das juras de amor?
O corpo tem viva a memória subtil de doces estremecimentos - a cabeça pouco manda quando é a pele quem recorda.
(Vinha na lambreta de Alpedrinha a Monsanto)
A chuva parece mais fria no cimo do monte, o vento sopra e no seu assobio parece cantar a solidão maldita dos amores perdidos.
(Na muralha Norte, a que ninguém acede, ataram com cinco nós apertados um lenço vermelho que alí ficaria - para sempre? - enquanto durasse o amor)
Na muralha está um homem que com muito cuidado dá cinco nós apertados num pano vermelho. Maria para, diria que o seu coração também, e recua lentamente não vá o Benjamim vê-la. A mão no seu bolso agarra o lenço vermelho. Sabe agora que o amor dura enquanto o quiserem os dois.
![]() |
Castelo de Monsanto |
Quando o cinzento é lindo.
ResponderEliminarBoa semana
Que bonito! :) Gosto de tudo, do título, da descrição, da história. Parabéns!
ResponderEliminarGosto!
ResponderEliminarAr puro...
-
O que diz o meu olhar ...
Beijo e uma excelente semana!
Olá:- Já estive - mais que uma vez - na aldeia de Monsanto, inclusive no Castelo. Tem uma vista extraordinária. Um lugar que merece ser visitado
ResponderEliminar.
Feliz inicio de semana
Proteja-se
íngreme o caminho das pedras
ResponderEliminarGostei muito deste texto!
ResponderEliminarE claro que aviso, desde que eu continue por aqui e fique a saber, venho logo a correr contar para sermos de novo colegas no próximo
um beijinho e uma boa noite