terça-feira, junho 16, 2020

Migrantes

Vale a pena ler.
A história é uma herança a que não podemos renunciar.

“São esquisitos, baixos e com bigodes e barbas. Chegam, na esmagadora maioria, homens. Elas, quando vêm, cobrem os cabelos com panos e não usam saia acima do joelho.
Muitas são proibidas pelos maridos de cortarem o cabelo. Por vezes, eles ameaçam-nas com uma chapada ou um murro; elas, subservientes, baixam a cabeça e colam as mãos ao ventre. Trazem com eles uma paixão fervorosa pela religião.
Usam colares com o símbolo das suas crenças e são capazes de dar mais do que têm para que o seu local de culto, na sua terra natal, tenha um relógio ou um telhado novo. Rezam, pelo menos, de manhã e à noite. Se puder ser, ao final da tarde, cumprem mais um ritual.
Chegam sem falar uma palavra da nossa língua. Parece que fogem de uma guerra qualquer lá no país deles, da fome e da miséria. Não têm, por isso, noção de amor à nação.
Fogem em vez de defenderem o seu país e lutarem por uma vida melhor lá, na terra deles, vêm para aqui sujar o nosso país com a sua imundície. Atravessam países inteiros a pé ou à boleia para chegarem aqui.
Pagam milhares para saírem do seu país e vêm ficar na miséria. Alguns têm muitos filhos, muito mais do que aquilo a que estamos habituados. Deixam-nos sozinhos ou com os irmãos mais velhos, que não vão à escola. Mas são muito trabalhadores.
Bem, na verdade, não roubam exactamente o nosso trabalho, porque aqui há leis que não nos permitem trabalhar 18 horas diárias, embora isso exista e dê jeito a alguns patrões. Mas de certeza que nos roubam qualquer coisa. São diferentes de nós e isso causa-nos má impressão.
Não são muito limpos, cospem para o chão e as suas maneiras em público deixam muito a desejar. Vivem em bairros de lata que mais parecem campos de refugiados. Não sei como conseguem. Se é para viverem na miséria, mais valia ficarem na terra deles.”
Diário de um Parisiense, 1969
Sobre os imigrantes Portugueses que rumavam a França, na altura.









6 comentários:

  1. Já conhecia a história e a história repete-se!

    Beijos

    ResponderEliminar
  2. Muitos vivem uma miséria falsa ( claro que se calhar a minoria). Não gastam nada em água, luz, casa, para poupar, poupar, poupar e um dia chegarem à terra deles e comprarem uma quinta e uma boa casa.

    Não era assim nos anos 50/60/70, com os emigrantes portugueses em França? Lá miséria
    Voltavam a Portugal e compravam quintas e faziam grandes casas.
    .
    Tenha uma terça-feira muito feliz
    Deixando uma 🌹

    ResponderEliminar
  3. A mala de cartão, reminiscências profundamente tristes.

    ResponderEliminar
  4. Há uns anos no CCB houve uma exposição acerca dessas vivências, dos emigrantes que foram a salto para França.

    https://www.tsf.pt/sociedade/memorias-do-salto-9241244.html

    ResponderEliminar
  5. Só para o final comecei a suspeitar que fala de nós...

    ResponderEliminar