sábado, dezembro 19, 2020

Ser feliz frente ao espelho

A apagar mails antigos dei com esta pequena reflexão que enviei a uma amiga jornalista que estava a fazer um trabalho sobre o "enfrentar o espelho" e me pediu uma leitura "psi"
Lancei ideias, sem organizar muito o texto.
Mas é isto!
Partilho convosco!


 
O primeiro espelho em que nos olhamos é o olhar do outro.
Primordialmente o olhar da mãe, que nos reconhece, nos confere sentido e identidade.
É à medida que é "lido", quando a mãe identifica o sono, a dor, o desconforto, a fome, que o bebé aprende a diferenciar em si próprio as várias sensações.
Ao mesmo tempo a mãe sonha o seu bebé. Projecta nele os seus próprios desejos, medos, projectos, fasquias.
 
É com base nestas projecções e experiências precoces que se constitui o Eu Ideal.
E é esse Eu Ideal que muitas vezes se procura, na idade adulta, no espelho.
Quando a fasquia fica muito elevada, quando nunca somos suficientemente bons ao olhar do "outro", nunca estamos satisfeitos com o que vemos ao espelho. E há pessoas inclusive que nunca se olham ao espelho. Pelo contrário se o espelho do olhar da mãe foi securizante e narcisante, é essa imagem que encontramos reflectida no espelho, e aí é possível tirar prazer do "olhar ao espelho"

O olhar ao espelho é também o lugar do reconhecimento narcísico, da possibilidade de valorização, do reconhecimento em nós próprios da capacidade de relacionamento com o outro. O espelho devolve a imagem que sentimos ser agradável para o outro e ganhamos confiança para entrar em relação.
 
Depois há a questão interessantissima que nos é trazida pela madrasta da branca de neve:
"Espelho meu, espelho meu, há alguém mais bonita do que eu?"
Estamos perante a problemática da rivalidade e do envelhecimento.
A luta contra o tempo que é feita frente ao espelho, a rivalidade face à geração mais nova.
Hoje em dia é mais fácil ludibriar o tempo e prolongar um aspecto jovem, a escolha por uma alimentação mais saudável, a prática mais ou menos regular de exercício fisico, o tipo de vestuário que se escolhe são as armas mais escolhidas para vencer as marcas do envelhecimento.
 
Mas, salvo a excepção de narciso que se apaixona pelo seu próprio reflexo, estamos condenados a encontrar no espelho as nossas imperfeições, E por isso a melhor arma para ser feliz face ao espelho é saber lidar com as falhas, ser flexível com os erros, encontrar espaços de tolerância para com a diferença e o envelhecimento.
 

Sem comentários:

Enviar um comentário