Isabel levantou-se cedo, Talvez fosse hoje. Talvez o Sr Marcolino trouxesse lá no meio das outras cartas, contas e encomendas a resposta dele! Coisa tonta esta da Isabel, de se arranjar com mais primor no dia em que pressentia que o Sr Marcolino ia trazer uma carta do José. Lavava a cara com a água fria do fim do Outono, penteava os cabelos negros e prendia-os atrás com uma fita de veludo vermelha que ele lhe tinha dado no dia do baile da Sra da Anunciação, passava uma gotas do perfume caro no pescoço e vestia o casaco domingueiro. E enquanto se ocupava com os seus afazeres ia espreitando a curva do caminho, imaginando vezes sem conta que ouvia a campainha da bicicleta do Sr Marcolino que deixava as encomendas na loja da D Maria. Que inquietação esta que tomava conta dela, lembrava na sua cabeça as palavras que tinha escrito com a sua letra bem desenhada, palavras escolhidas com cuidado, frases que antecipavam os olhos dele presos no papel, bebendo cada silaba com se fossem beijos dela. Talvez fosse hoje. Largou o que fazia e foi buscar o jarro de água. Encheu um copo e foi sentar-se à porta, bebendo lentamente e olhando a curva do caminho... Estava bonita, o cabelo preto brilhava à luz do sol de Outono, mas mais do que esse sobressaia o brilho dos olhos verdes, hoje especial, hoje cheio de esperança. Agora sim. Tinha a certeza de ter ouvido a campainha da bicicleta. Imaginou a cena: A D Maria a abrir a porta, a dar os bons dias ao Sr Marcolino, a receber das suas mãos as poucas encomendas que nesta altura do ano costumavam chegar. Lembrou-se impacientemente do copo de água que tão gentilmente a lojista oferecia cada dia ao carteiro, não fosse a sua pressa tinha sorrido perante a ideia de sempre arranjarem um pretexto para se demorarem mais um pouco um ao pé do outro. E o Sr Marcolino sorria, dizia até à manhã e... aparecia na curva do caminho. Lá estava ele. Chegava ao pé dela. Parou! O coração bateu mais forte, mal se contendo com a expectativa. Era uma carta que ele procurava na sacola e que lhe entregava ela. Mas a carta não era do José! E os olhos perderam o brilho... Talvez amanhã...
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Gosto da photo.
ResponderEliminarO conto é lindissimo, leva-me a outros dias que ainda são os de hoje noutros locais.
Saudades fotograficas do Portugal saloio.
Nós devemos ser dos póvos com maior tendencia para belas mulheres esperando amores distantes, está-nos na alma.
Beijo grande de quem adorou a viagem.
(O teu "Talvez amanha..." é que me relança as duvidas... falso alarme?)
Nada falso o alarme...
ResponderEliminar;)
boop, a isabel padece, como qualquer mocinha enamorada, de um sexto sentido ansioso, não é?? e provavelmente com razão acrescida. estaria o seu zé no ultramar?? andamos obcecados com o vintage e daí a associação pré abrilesca.
ResponderEliminarde todo o modo, os correios sempre funcionaram como uma bela desculpa para a falta de notícias. hoje já não temos essa sorte quando "o zé" não dá sinal...
continua com estas prosas!!!
fico em pulgas para saber do sr marcolino e das missivas que trará amanhã.
... sempre o "talvez amanhã"... que angústia. Os pormenores da história são deliciosos. Bj
ResponderEliminartalvez...
ResponderEliminarpois, não quero estragar a estória, mas soube agora que José morreu...
ResponderEliminarora bolas, Boop... diz a ela que o funeral é amanhã pelas 17h na capela da anunciação...
yayayay
estou-me a rir porque 17h não é hora para enterrar ninguém...
yayay
abrazo europeo
mna boop, por que é que agoras apareces de luto?? morreu mesmo o josézito, como o mixtu tinha dito??
ResponderEliminarUma espera sempre actual num belo conto!
ResponderEliminarBeijos
Sempre a trazer-nos sorrisos... mesmo q nostálgicos!...
ResponderEliminarMais uma vez: Parabéns!
Tb pelo resto!
Linda... Tu és uma verdadeira "storyteller". Acende ai a fogueira e conta mais... Adoro os teus contos!
ResponderEliminarBeijos
os olhos perderam o brilho?
ResponderEliminaragora que brilhas por todos os lados???
A questão é que o Sr.Marcolino volta sempre amanhã....
ResponderEliminarNo dia seguinte, Isabel acordou com esperança agonizante do "talvez", a meio vestir. Olhou a fita vermelha estática, berrante e muda ao mesmo tempo. Ali, no mesmo sitio onde a pousara ontem.
ResponderEliminarOs minutos empurraram-se lentamente uns aos outros e lá na hora do costume apareceu o Sr. Marcolino a dobrar a estrada de luz cinzenta.
Isabel saiu já com o copo de água na mão. Mesmo sem misivas, sabia que o Sr. Marcolino tinha aquela sede contínua. A regra do hábito.
La saiu a seu encontro. Ele parou frente à porta, abriu a velha pasta e tirou um envelope.
Sorriu ao ver o espanto na cara da moça. No mais natural dos movimentos ela arrebatou-lhe das mãos a missiva
...não era a que estava à espera, possivelmente aquelas letras não mereciam uma recepção em atavios domingueiros nem fitas vermelhas a segurar seus preciosos cabelos, mas devolveu um sorriso ao Sr. Marcolino que já tinha apagado a sede. Tornou a ver o envelope com um certo encanto na face. No lugar do remetente estava escrito:
"Blf Blf Blf!"
LOL
ResponderEliminar...
ResponderEliminarLINDO!!!
e decerto fica muito melhor servida com o manél-d!!
detesto suspenses...
ResponderEliminarps : parabens.
Off Topic
ResponderEliminarEstás bem sentada?
Precisas de uma almofada?
Manta?...
Apetece-te um sumo?
Lanche?
Não forces os olhos!
Descansa a cabeça!
Sentes-te bem?
De certeza?...
:)
Fico felicissimo por ti (por vocês) miuda.
Beijo muitA grande, cheio de orgulho!!
Outro Off Topic e ainda por cima um Copy Paste:
Claro que também vale para os homens, o problema é que os homens portugueses são MUITO MAIS FEIOS que as mulheres portuguesas, o que vos (mulheres) obriga a uma maior tolerância às supostas imperfeições nas quais se descobre tanto charme, tanta tesão.
E já agora, outro beijo muitA grande *
Muy cool :)))))
Não pude deixar de sorrir ao ler este belo texto/conto, pois vieram-me à memória coisas minhas de outros tempos já quase esquecidos, lá bem no fundo das minhas lembranças mais remotas de um princípio de Primavera florida.
ResponderEliminarO primeiro não se chamava Marcolino, mas sim Alberto... e o segundo... esse não era José, mas sim, Florentino...
Gostei muito!
Beijo
Vim ali do canto do Dias Lamecha, e sublinho que quando o adjectivo é com carinho, sou um apaixonado do rapaz.
ResponderEliminarE sobre essa coisa do Zé, não faças caso, os homens são mesmo assim.
Por essas e por outras é que sou mais dado a Zézinhas.
Gosto do puxador da porta!
ResponderEliminarAh, o buraco também me agrada.
Velho intriguento, vens aqui dizer que és apaixonado do Dias? Isso era um segredo de camarote, não era para dizer!
ResponderEliminarPORRA! És sempre o mesmo!
Duh, já estás aqui?
ResponderEliminarVelho, como eu queria ver-me livre de ti.
Vou fazer rifas e rifar-te!
Ai velho do caraças!
ResponderEliminarNem te dês ao trabalho... saio de cetteza à casa, que é como quem diz, ao camarote...
Achas que conseguias vender alguma rifa com esse aspecto naftalinado?
Enxerga.te velho!
Olha-te ao espelho, repara que nem reflexo tens, apenas és o que eu permito.
ResponderEliminarVou jantar que as meninas da segurança social já chegaram.
Quase podia mudar o meu nome para Isabel...fiseste-me lembrar as esperas intermináveis por respostas que mais tarde ou mais cedo acabavam por chegar...
ResponderEliminarAnsiedade que deixei, algures no caminho...a ansiar sozinha.=)
3 bjinhos e meio*
E não é a nossa vida uma constante espera?!
ResponderEliminarÓ velho, gostei das meninas, eram jeitosas, só foi pena virem vestidas!
ResponderEliminar...
ResponderEliminarena! temos marretas por aqui!!!
mna. boop, já estamos fartos de esperar...
afinal quando chega o godot ou a carta dele?? ou será que a moça se encantou pelo manél-d e acabou-se a história??
Anseios...
ResponderEliminarquem espera sempre alcança... olha lá... esperei todo o ano pelo natal, e aí está ele quase a chegar...
ResponderEliminarOla...
ResponderEliminarLindo e emocionante conto...
A carta chegará...talvez amanhã ou em outro dia... mas chegará, porque a Isabel assim acredita e assim se prepara diariamente para a receber... tal como se preparará para receber o seu José...
Beijo
Vity