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Já muitos tinham
partido, notava-se em todo o lado, nas ruas, no café, até o Pe Manuel tinha
reparado que a igreja se esvaziava.
O Tó da oficina
tinha observado no outro dia que a aldeia parecia ter uma fuga de ar. Esvaziava-se
lentamente sem ninguém perceber como. Tinha razão!
O silêncio
crescia por entre as casas, os animais calavam-se sem resposta, e até
parecia que o próprio vento se envergonhava ao passar pelas árvores,
com medo
de fazer notar o vazio que se instalava.
E um buraco
escavava-se no coração da Otilia.
Sentia que o sonho tinha sido uma partida de
mau gosto.
Há um mês tinha
sido a vez do Francisco partir para Lisboa "Mando-te chamar!"
dissera.
Otilia olha para
a praça uma última vez.
Sabe que não vai voltar, nunca.
Nunca mais vai saber de
nenhuma daquelas pessoas. Não sente pena!
A Camioneta para
Lisboa aparece já no fundo da estrada.
Fica a olha-la por uns instantes.
Vai-se embora! E ninguém
mais vai saber dela.
É um pensamento
estranhamente reconfortante.
Vai poder
reinventar-se nas ruas de Lisboa!
Anónima com as suas dúvidas no ruído da
cidade!
Vai recomeçar,
sem história.
Ver as vitrines das revistas, e encher-se das coisas da cidade tão
assustadoras quanto aliciantes.
E o pensamento
volta ao Francisco, e na sua cabeça entoa os versos da canção que ouviu o outro
dia na rádio
"Entre nós há promessas por cumprir, mas sei que nada vai
mudar, o meu vício de ti não vai passar!"
- Não, nada vai mudar entre ela
e o Francisco!
Ninguém se veio
despedir da Otilia,
não houve um abraço, corações apertados, nem lágrimas
contidas.
Subiu decidida os
degraus da camioneta sem olhar para trás
Já partiu, não
voltará!
Boa sorte Otilia!
Tocou-me muito que nem podes imaginar. É assim que se esvaziam aldeias, vilas e cidades...e foi a melhor atitude de Otília...partir!
ResponderEliminarBeijocas e um bom serão