quinta-feira, março 12, 2015

Boa sorte Otília !

(último episódio)




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Já muitos tinham partido, notava-se em todo o lado, nas ruas, no café, até o Pe Manuel tinha reparado que a igreja se esvaziava.

O Tó da oficina tinha observado no outro dia que a aldeia parecia ter uma fuga de ar. Esvaziava-se lentamente sem ninguém perceber como. Tinha razão!
O silêncio crescia  por entre as casas, os animais calavam-se sem resposta, e até parecia que o próprio vento se envergonhava ao passar pelas árvores,
 com medo de fazer notar o vazio que se instalava.

E um buraco escavava-se no coração da Otilia.

Sentia que o sonho tinha sido uma partida de mau gosto.
Há um mês tinha sido a vez do Francisco partir para Lisboa "Mando-te chamar!" dissera.



Otilia olha para a praça uma última vez.
 Sabe que não vai voltar, nunca. 
Nunca mais vai saber de nenhuma daquelas pessoas. Não sente pena!

A Camioneta para Lisboa aparece já no fundo da estrada.
 Fica a olha-la por uns instantes.
Vai-se embora! E ninguém mais vai saber dela.


É um pensamento estranhamente reconfortante.

Vai poder reinventar-se nas ruas de Lisboa!

Anónima com as suas dúvidas no ruído da cidade!

Vai recomeçar, sem história.
 Ver as vitrines das revistas, e encher-se das coisas da cidade tão assustadoras quanto aliciantes.



E o pensamento volta ao Francisco, e na sua cabeça entoa os versos da canção que ouviu o outro dia na rádio 
"Entre nós há promessas por cumprir, mas sei que nada vai mudar, o meu vício de ti não vai passar!"

- Não, nada vai mudar entre ela e o Francisco!

Ninguém se veio despedir da Otilia, 
não houve um abraço, corações apertados, nem lágrimas contidas.
Subiu decidida os degraus da camioneta sem olhar para trás
Já partiu, não voltará!


Boa sorte Otilia!

1 comentário:

  1. Tocou-me muito que nem podes imaginar. É assim que se esvaziam aldeias, vilas e cidades...e foi a melhor atitude de Otília...partir!

    Beijocas e um bom serão

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