sexta-feira, março 11, 2016

Uma branca

"Uma branca" Carlos Farinha
Não sei escrever senão para ti.
Não, isto não é correto!
Não sei escrever como escrevia para ti!

Aparentemente as palavras que uso são as mesmas. Ou quase as mesmas, na verdade há palavras que só as dizia a ti. Mas palavras são só isso, palavras... a nossa língua tão rica permite aceder a conceitos sem usar essas palavras, as que só dizia a ti.

É que é oco o meu texto...
Palavras juntas, compostas, em receitas fáceis e universais. "Escreves muito bem!" - dizem eles...
Não escrevo, papagueio, ponho uma palavra a seguir à outra, imito-me descaradamente recorrendo a chavões e redundâncias.
Sei que o que escrevo é uma fraude!
"Escreves muito bem"!? - dizem eles.
Não saberão distinguir o que é genuíno, do novelesco e enfadonho?

Para ti reinventava-me, redescobria-me, escutava-me, traduzia-me.
Ia além do meu limite, não sabia o que vinha depois, não tinha fronteiras, não tinha tabús, Sabia que me lerias, e que saberias acompanhar-me. Divertia-me a seguir um pensamento, encantava-me com uma ideia, perdia-me numa fantasia.

Na verdade não sei escrever como escrevia para ti.
Para escrever assim precisava de ti,




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