terça-feira, fevereiro 23, 2016

Noite dentro...



Desde muito pequeninos os meus filhos sabem uma coisa:
Se me contarem o pesadelo que tiveram não vão voltar a tê-lo! E podem voltar a dormir!

Esta regra foi transmitida com tanta verdade e certeza que os dois lhe são fieis desde muito pequeninos. Desde que a palavra é um instrumento que podem usar.

O principio simples e intuitivo:
- traduz-se em palavras os afectos confusos - tornando-os "manuseáveis"
- a angustia é projectada para fora e depositada no outro

E resulta quase sempre! (não quero dizer sempre… mas é mesmo quase sempre!)

Acontece vezes sem conta: chamam-me a meio da noite. Oiço meio a dormir a voz entremelada dou um beijo na testa e volto para a cama. Não digo quase nada. Sou apenas empática com a angústia por detrás da história. Muitas vezes de manhã já nem se lembram do pesadelo. Muitas vezes nem eu me lembro do pesadelo!

Mas é tremendo acompanhar assim de perto, sem qualquer censura nem filtro o que pode produzir a mente de uma criança. Olhar de perto os monstros que as habitam, ver a personificação dos seus medos, visualizar os terríficos cenários, ter acesso à mais crua das violências.

Que ninguém ouse dizer que é fácil ser criança!


"Os sonhos são como a tradução para uma língua de coisas intraduziveis de outra; ou como a transposição da linguagem - forçosamente confusa ou complicada - de sentimentos vagos ou complexos, que a redacção normal não pode comportar"

Fernando Pessoa


Podia ter esta banda sonora

3 comentários:

  1. Já os estou a ver quando forem maiores "Mamã, sonhei que tinha de entregar o IRS. Se te contar não volta a acontecer, pois não?". Lá se vai a teoria...

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  2. Olá ;)
    Tão bom quando eles são pequeninos. Tão bom quando somos seu porto-seguro-para-sempre.
    E mãe, parece que é mesmo tudo igual (vá lá: quase tudo), seja de noite, seja de dia, sempre atenta, sempre prestável, sempre ouvido, sempre amor. Isso é mãe.
    Ser criança não é fácil, razão disso é a existência da mãe ;)

    * em relação ao seu comentário lá no meu sol: confesso que, quando estava a preparar a postagem essa questão que colocas estava presente aqui, na minha mente - ou no meu coração - ao imaginar-me em situação idêntica e ao perguntar-me o que seria de mim, sem poder ter uma opção semelhante, de sair no mundo a "fazer o resto de minha história" com um final, se não feliz, pelo menos tranquilo.


    um bjn amg

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  3. Sempre fiz isso com as filhas e habituadas a terem essa "acalmia nocturna" hoje são elas a acalmarem os filhos do mesmo modo.

    Felizmente há anos e anos que não tenho pesadelos ao invés da minha mãe que bem sofre com isso. Não te sei dizer a razão...mas julgo que mesmo coberta totalmente de preocupações quando me deito e faço a análise do dia...penso sempre fiz o que pude e o que não pude farei amanhã...se acordar.

    Beijos

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