terça-feira, maio 24, 2016

Ser mãe

Há pontos de vista a partir dos quais algumas coisas se tornam incompreensíveis.
(mesmo que tenha em mim todos os instrumentos pessoais e/ou profissionais para o fazer)
E não há (ou não devia haver!) compreensão possível, na cabeça de uma criança de 7 anos, para uma mãe que escolhe morrer.
De repente esqueci tudo o que sei e aprendi. E senti "Uma mãe não tem direito a querer morrer"



- O suicídio tanto pode ser afirmação da morte como negação da vida. Tanto faz.
- É mentira. E vou explicar: o suicida é aquele que perdeu tudo, menos a vida.
Fernando Sabino

(porque há uma semana o meu filho chegou a casa e disse "a mãe do X morreu", para todos um acidente, mas não para o X, para ele é tudo menos um acidente)



5 comentários:

  1. E quando procurava uma imagem para ilustrar este post dei com uma série de sites / imagens/ até comercio, em que se faz uma ode ao suicida. Dirigido claramente a adolescentes. Coisas que sei que existem mas… Há coisas neste mundo que me inquietam!

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  2. Olá, Boop.
    Esta postagem trouxe-me à lembrança uma amiga que tive, há muitos anos, das primeiras pessoas que conheci quando cheguei cá, a Portugal. Na altura ela tinha uma "vida bonita", como ela dizia: era francamente feliz.
    Mas a vida dá muitas voltas e a dela deu voltas a mais.
    O marido teve um acidente muito grave, esteve em coma quase morreu, mas não morreu. Não morreu fisicamente, mas o homem alegre que ele era morreu e, deparado com as mazelas no corpo e com a nova vida, a revolta transtornou-o e tornou-se ciumento, enraivecido, violento.
    Ela de feliz, passou a triste, muito amargurada.
    Passados anos ficou cancerosa. Foi operada, sobreviveu.
    Passado algum tempo, cancro noutro ponto do corpo.
    O cancro, muitas vezes, é mortal, mas o estado de alma dela matou-a antes. Ela desistiu de viver. Nem a filha, que tinha doze anos, a segurava à vida, porque, na ideia dela, as irmãs cuidariam dela, como já vinham a fazer há anos.
    Ela dizia-me que queria morrer e morreu. Não se matou, mas deixou-se morrer, de bom grado - dizia-me que "já não vivia".
    É assim, minha querida Boop. Dizes "uma mãe não tem direito a querer morrer" - é verdade, respondo. Mas lanço a questão: uma mãe-morta-viva está presente? A presença é mais do que deixar estar o corpo enquanto a alma moribunda vagueia.
    A vida é muito mais complexa do que gostaríamos e do que deveria ser. Não há regras nem postulados a seguir, em linha recta. Há muitas linhas curvas e ziguezagueantes.
    Nem é saudável a gente pensar muito.
    E igualmente ruim é essa sua descoberta macabra, aqui citada, no comentário acima.
    Por isso e outras coisas mais, têm que criar um meio de "varrer" a Internet e evitar esses sites.
    *Espero que essa criança consiga encontrar paz na sua cabecinha.

    deixo-lhe um bj amg

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  3. Carmen, compreendo o que dizes.
    A vida as vezes pode tornar-se insopurtavel.
    A minha inquietude foi pôr-me no lugar de um menino de 7 anos....
    E pensar no meu filho...

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  4. A vida continua a ser, em muitos aspectos, incompreensível, mas há algo nela que a caracteriza, custe o que custar: manter-nos à tona. Quando o contrário acontece, e às vezes acontece mesmo, alguma coisa preciosa, essencial, se perdeu pelo caminho. Mas, mesmo assim, custa-nos a aceitar.

    Uma boa semana :)

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  5. Subscrevo inteiramente os dois comentadores porque não sei o que se passará na cabeça de uma criança de 7 anos ver a mãe a morrer e padecer de tamanho sofrimento como é descrito por Carmem.

    Pensar nessas duas facetas da mesma moeda, fica tão difícil.

    A vida dá muitas voltas e por vezes numa centrifugação doentia e não há filhos que segurem uma mãe.

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