domingo, novembro 19, 2017

Oculta

Mais um livro acabado aqui há dias - "Oculta" de Héctor Abad Faciolince, escritor Colombiano, com a vida dividida entre a violenta Colômbia e o refugio de Itália.

Uma história contada a três vozes, de três irmãos, que nos leva numa viagem pelo desbravar da floresta colombiana, um percurso de maravilhas e horrores, de esperança, audácia e medos. E da quinta da família - La Oculta.

Deixo-vos um pouco das três vozes:

EVA
"Há dias em que acordo lúcido e então desprezo o campo. As vacas, as galinhas, o cheiro a estrume, os mosquitos (...) no caso as pessoas parecem meio aparvalhadas, no melhor dos casos, ou então tornam-se receosas, velhacas, desconfiadas. (...) O campo embrutece porque não há cinema, nem jornais, nem bibliotecas, nem salas de concertos, nem teatros, (...), nem pessoas de todos os tipos que vão e vêm e discutem nos cafés. Não há conversas inteligentes, informadas, que são o melhor remédio para não nos mantermos brutos (...) Quem permanece no campo vai-se tornando selvagem, vai mimetizando a terra até ficar parecido com as vacas ou, no melhor dos casos, com os pássaros.
Tenho esta casa, tenho a terça parte de uma quinta a que já quase não vou, e menos ainda desde que morreu a mina mãe. (...) Eu seria capaz de nunca mais voltar a La Oculta"

ANTÓNIO
"(as irmãs) São tão diferentes uma da outra que pode parecer estranho que goste delas da mesma maneira. (...) Desde que me conheço que as observo com interesse e curiosidade, com amor e paixão como se assistisse ao enredo de um filme, de dois filmes ao mesmo tempo. São como um mistério que tenho de decifrar todos os dias.(...) Não as julgo, não penso que uma é melhor que a outra. Acho que elas também não me julgam demasiado e aceitaram-me como sou, com as minhas luzes e as minhas sombras(...), com ou sem o Jon. Penso que se a Pilar não tivesse tido ao lado dela um homem como o Alberto, que é completamente excepcional entre os homens, se calhar não tinha constituído a família tão fiel às tradições que sempre quis ter(...) E se as primeiras experiência da Eva não tivessem sido com homens tão desagradáveis, machistas e egoístas como os que teve, talvez não tivesse sido obrigada a assumir uma atitude de desconfiança, liberdade e desprendimento.
Eu (...) vivi a primeira metade da minha vida como a Eva (...) na segunda metade desde que encontrei o Jon, a minha vida tornou-se mais parecida com a da Pilar:
Há coisas na vida que só contamos a nós próprios, desde que não nos descubram, coisas ocultas que não são o cerne das nossas vidas, mas uma zona escura da nossa intimidade.
Eu sei que a Pilar e o Alberto não têm segredos(...) mas quantos casais conseguem viver assim?"

PILAR
"(La Oculta) trata-se da versão local do paraíso perdido, da terra prometida que uma vez nos foi dada(...)
É por isso que eu e  o Alberto queremos conservar La Oculta, e fá-lo-emos seja como for, até ao dia da nossa morte. E não é por egoísmo, é para que o António e o Jon possam vir dos estados unidos e sentir-se felizes aqui.Para que os meus filhos e os meus netos venham para cá e sintam a mesma felicidade que eu sentia quando era menina e moça.
(...)
Cobo (o pai) não estava enganado quando me pediu para não a vender. Quem está muito bem enganado é quem vende as suas próprias terras."





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