segunda-feira, dezembro 10, 2018

Demoro-me à janela.





Numa das últimas manhãs que passo nesta casa demoro-me um pouco mais à janela.
As cores são fogo, mas no ar há um rasgo frio de uma manhã de Dezembro.
Penso nas mudanças...
Penso nas resistências, e do quanto é mais fácil permanecer no recanto seguro daquilo que é conhecido.
Todo o passo para o novo tem o seu quê de precipício e de voo.
Todo o andar para a frente tem a despedida de uma vida sem retorno.

E surgido de um canto qualquer da minha memória, como que saindo de um livro que teima em ser encaixotado, visita-me um poema:

"Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero."


(Álvaro de Campos)


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E depois saio com crianças, mochilas, casacos, etc, que a vida continua igual a ela própria, sem querer saber das "cores africanas" que pintam quadros nas minhas janelas.

4 comentários:

  1. Que palavras tão belas!

    Beijinhos

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  2. Bem vinda Pérola!
    :)

    Boa semana para os dois!

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  3. Pintaste um quadro com palavras tocantes e "cores africanas".

    Um enorme abraço

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