segunda-feira, janeiro 14, 2019

Marias




Hoje ao entrar no prédio do consultório apanhei uma conversa deliciosa da porteira (uma mulher ainda jovem) e uma outra pessoa. Tinham nas mãos a revista Maria e falavam com um interesse entusiasmado das revelações que a novela traria esta semana.
“Mas o Y não é pai da X”
“É!”
“Então mas eles não tinham....”
“Pois, mas ela nessa altura ainda não sabia que ele era pai dela”
... e por aí fora.

Confesso que sorri para dentro. Fiquei realmente encantada com o lugar que estas histórias alheias para onde podemos olhar, com todo o prazer voyeur, ocupa nas vidas (que imaginei simples) de algumas pessoas. 
Não! Não é correcto!
Não serão vidas simples, mas aparentemente os assuntos mais abstratos, universais, paradigmáticos, fracturantes, entram nas suas vidas através deste olhar passivo, de quem se encontra à janela a dar conta da vida dos vizinhos.
Com posições tomadas à distância, sem grandes conflitos éticos ou morais, já que é da vida alheia (e ainda por cima ficcional) que se trata.

Ora na minha cabeça tem andado outra Maria...
A Maria José Vilaça, que mais uma vez trouxe a intervenção psicológica à praça pública trazendo o que de mais preverso, anti-ético, maltratante, se faz por esse país fora (sim, eu sei..., no mundo infelizmente fazem-se coisas muito piores ainda).

Para quem não está a par fica só um cheirinho (procurem na net se quiserem saber mais): a homossexualidade como uma doença..., equivalente à toxicodependencia..., é um surto psicótico inscrito numa estrutura bipolar..., tem cura...., há que fazer terapias de reconversão, ...e por aí fora.


O “...e por aí fora” da revista Maria pareceu-me tão mais simples e inconsequente...
E o que esta senhora diz/faz (não estando ela sozinha evidentemente) é tão terrivelmente mais destruidor, alienante, promotor de doença mental.

Tive momentaneamente um sentimento de nostalgia de pertencer a um mundo mais infantil de novelas de cordel. 
E uma certeza do mundo em que quero estar. Como adulta, profissional, cidadã, Co-construtora do mundo em que vivo.

___________________

E porque o humor é uma arma poderosa:
https://www.clipzui.com/video/p3o40664d4y4r3o416l4x2.html



8 comentários:

  1. Há uma ministra no Brasil com essas ideias a roçar o medieval.
    Perdoai-lhes Senhor porque não sabem o que fazem.

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  2. Subscrevo inteiramente e quanto à Vilaça...minha nossa senhora é...nem como expressar o que senti quando a ouvi!

    Beijocas e um bom dia

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  3. Ás vezes com estas coisas de " energumes " esqueço-me que estamos no século XXI!

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  4. E não é apenas a ministra que viu Jesus na goiabeira aqui no Brasil que tem essas ideias a roçar o medieval, não, na verdade é quase toda aquela cambada do novo governo, começando pelo próprio presidente, o Boçalnaro, que foi quem escolheu essa mulher e pensa como ela, e pior que ela, certamente, umas dez vezes. É como eu sempre digo, se houver outras vidas, há gente que precisaria voltar mais uma dez vezes para conseguir abrir ao menos um pouquinho a mente. O mundo ainda é um lugar cheio de ignorância. Felizmente há uma parte que já aprendeu ao menos um pouquinho com uma vida só, essa que temos aqui e agora. :)

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  5. (Bom mesmo era a estocadora de vento... :))) Coitados dos gays!!! Um bando de gente usando-os para defender o que lhes convém.)

    Para além dos comentários, gostei muito da postagem. Parabéns!

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  6. Só mesmo gente burra - e provavelmente preconceituosa - para comparar o atual presidente com a Dilma, que não fez um bom governo, é verdade, longe disso, especialmente no segundo mandato, que dizia algumas besteiras, também, mas não era uma escrota como esse Boçalnaro. Pelo menos ela dava a cara pra bater, era uma mulher corajosa, não se escondia atrás de nada para dizer o que queria, diferente desse presidente boçal que já fugia desde os debates na televisão, e que esteve agora em Davos e dos 45 minutos que poderia usar para o seu discurso usou apenas 6, além de ter fugido da coletiva de imprensa depois, porque é BURRO, despreparado, não tem carisma, não sabe nem sequer o que falar, apenas lê as palavras rasas que escrevem para que ele repita como um papagaio. Boçalnaro só era "machão" na hora de falar merda sobre os outros em programa popularesco da televisão brasileira, cadê ele agora pra falar da lavagem de dinheiro na qual gente da família dele está envolvida? Ele, Moro, todos bem quietinhos, evitando entrevistas. Bando de covardes!

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  7. Ulisses, o meu comentário foi mais um desabafo, que propriamente uma crítica. É que ando cansada dessa guerra entre direita e esquerda que se instalou no Brasil e enquanto isso o brasileiro cada dia mais pobre e sem esperança. Me desculpe se o meu comentário te ofendeu. Abraços.

    Boop, obrigada pela visita carinhosa ao meu blog.:)

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  8. Tudo bem, não me senti ofendido, mas considero irritante, confesso, quando fazem determinadas comparações atualmente, afinal a Dilma já foi tirada praticamente a chutes do governo, faz tempo, Lula está preso, há algum tempo, Haddad não venceu, isto é, o PT não está mais no poder e mesmo assim parece que algumas pessoas não se satisfazem com isso. Não estou aqui em defesa de partidos, meu problema é com o atual presidente, e eu teria críticas, da mesma forma, se fosse outro, mas em relação ao Boçalnaro o problema é muito mais sério, afinal não se trata "apenas" de corrupção, mas de outros tipos de valores, além desses que podemos medir apenas através do dinheiro. Dilma, como eu já disse, falava algumas besteiras também, mas não discriminava ou marginalizava determinados tipos de pessoas, como faz há anos o boçal, nem ficava usando o nome de Deus para ludibriar idiotas. Além disso, repito, ela já foi, já era, faz tempo, é carta fora do baralho, então não há razão para trazê-la à tona em meio à lama atual, considero mais sensato se ater ao presente, apenas isso, mas também entendo teu ponto de vista, essa polarização está mesmo chata, essa guerra entre a esquerda e a direita, é verdade. Abraços para ti também.

    Boop, concordo contigo, gostei do teu comentário sobre o meu texto, penso da mesma forma! O processo é lento, mas eu espero que as mentes possam continuar, mesmo que lentamente, evoluindo, e não regredindo como muitas vezes tem parecido em tantos lugares ao redor do mundo. Um abraço!

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