terça-feira, julho 30, 2019

10/30 Uma Menina Está Perdida no Seu Século à Procura do Pai



Este livro é como um eterno retorno à metáfora.
Os capítulos curtos que são um bom convite à leitura levam-nos ao encontro de personagens caricatas, plenas de idiossincrasias, mas numa de “outra leitura” revelam aspectos do ser humano que urge pensar - ou talvez, indo um pouco mais longe as personagens não são simples pessoas, representam aspectos da vida, situações, funcionamentos, e por isso mesmo no livro apareçam como inusitados , surpreendentes, ou melhor - inesperados

A Hanna (com sindrome de Down) é o olhar infantil, simples, desprovido de qualquer maldade, o ser humano em estado puro, não corrompido, inclusive pelo saber/a aprendizagem..

O sentimento transversal a todo o livro, que é trazido pela Hanna e depois por quem escolhe acompanha-la na jornada, de que o tempo é um conceito abstrato, que a urgência é um conceito relativo. Que há que lidar com os acontecimentos, afectos, impulsos, à medida que eles vão surgindo, mesmo que sejam assustadores, e que a reacção mais imediata seja a de virar costas e não agarrar o desafio.

A descoberta que o personagem do livro faz de que quando está com Hanna as pessoas confiam nele de forma pouco habitual. Como se fosse contagiante a inocência dela, como se o "estado puro" desarmasse o outro. (É delicioso o jogo de contar sorrisos quando andam pela rua)

E depois há o antiquário que habita o 4º andar. cujo acesso é feito por umas escadas sem corrimão, no apartamento repleto de objectos que despertam a atenção, todos eles pequenas viagens a momentos da vida, a outros tempos, a outros lugares. Para mim foi como a descrição de uma viagem ao inconsciente, à procura das origens, da sua própria história, lugar onde se podem demorar tempos infindos, onde se perde a noção do tempo, onde nem sempre se encontram respostas.
Este homem tem uma tarefa herdada de gerações passadas, que perpetua sem questionar, torna-se o seu propósito de vida, que não escolheu mas ao qual não pode escapar- é o que é!


Não é o livro de Gonçalo M Tavares que mais gostei.
Mas fez-me pensar algumas coisas o que já não é mau!

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