quinta-feira, julho 11, 2019

9/30 - A Aparição Segundo a Memória


Sobre o livro: 

É um livro difícil de comentar sem spoilers... Mas vou tentar!
Um exercício interessante, e para alguns seguramente considerado de ousado, de colocar Deus como personagem principal, com voz própria, pensamento, e (imaginem só)  crítica.
Com a acção a decorrer na primeira metade do século XX, num mundo em conflitos cada vez mais sangrentos e abomináveis, temos um deus inicialmente interventivo, pensando em como poderá guiar a sua criação (a quem em bendita hora tomou a decisão de dar o "livre arbítrio", mas que por isso mesmo se vê impedido de uma acção mais directa e efectiva na mudança do curso dos acontecimentos), e que progressivamente se desmorona e horroriza observando impotente o rumo da sua criação.
O final não vos conto, evidentemente!
É um deus que bebe, fuma, lê romances e poesia. Que sabe que só existe enquanto existir no pensamento do Homem, numa existência simbiótica (usando um termo da biologia). E que não alimenta a ideia de uma vida eterna pós morte, essa, a eternidade, só a Ele pertence, desde que alimentado pela fé dos homens ou pela sua própria vontade.
Não será certamente um livro recomendado pela Santa Madre Igreja! (o que acho que é de todo o agrado do escritor!)


Sobre o autor:

Conheci o Alexandre (Hoffman Castela) ainda antes dos seus 10 anos de idade. O que recordo é um menino educado, algo tímido (pelo menos perante os amigos dos pais que só vê muito de vez em quando), mas que se adivinhava vivo e atento. Na curta passagem pela sala da frente da casa dos pais para educadamente cumprimentar as visitas, arrumar um ou outro brinquedo e passar a mão numa festa por um dos sempre presentes cães lá de casa, pouco mais deu para perceber.
Fui sabendo noticias nas conversas entre "adultos" de "Como estão os miúdos?".
A escola. A escolha do curso. A ida para a faculdade em Coimbra. A boémia.
E fui sendo surpreendida pelas conquistas (as poucas que me chegaram, porque serão seguramente muitas mais) deste menino que já não o é há muito - destaco a candidatura como cabeça de lista às autárquicas de Lamego pela CDU, e agora o lançamento do seu primeiro romance!


Foi um prazer ler o Alexandre!
Talvez por não o conhecer muito bem, mas ao mesmo tempo ter acompanhado a sua vida há mais de 20 anos (mesmo que de muito, muito longe) ao lê-lo a voz dele foi estando pontualmente presente, não só nos trechos em que dá voz ao escritor numa leitura exterior à narrativa central do texto, mas também num ou outro pensamento, numa ou outra construção frásica, em que as idiossincrasias se revelam. Mas muitas outras vezes o enredo envolveu-me e era "lá" que estava. (não vos digo onde porque é bem mais interessante lerem!)

Parabéns Alexandre!

Ficarei atenta a um próximo livro!

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