segunda-feira, agosto 05, 2019

11/30 A Mancha Humana


Gosto (muito!) quando um livro consegue trazer o mundo através da idiossincrasia de uma história individual. Uma história de uma pessoa comum. Que todos nós encerramos em nós a História que trespassamos.
Fica o retrato, não só da América (assanhada com a história de Clinton e Mónica Lewinsky), mas de todo o mundo ocidental.

“O que nós sabemos é que, de um modo que não tem nada de lugar-comum, ninguém sabe coisa nenhuma. Não podemos saber nada. Mesmo as coisas que sabemos, não as sabemos. Intenção? Motivo? Consequência? Significado? É espantosa a quantidade de coisas que não sabemos. E mais espantoso ainda é o que passa por saber.”

É uma das personagens do livro (e tão improvável ter sido exactamente esta!) que nos explica a “manca humana”:

“...nós deixamos uma mancha, deixamos um rasto, deixamos a nossa marca. Impureza, crueldade, mau trato, erro, excremento, sémen. Não há outra maneira de estar aqui. Não tem nada a ver com a desobediência. Nem com Graça, ou salvação, ou redenção. Está em todos. Sopro interior. Inerente. Determinante. A mancha que existe antes da sua marca. Sem o sinal de que está lá. A mancha que é tão intrínseca que não precisa de uma marca. A mancha que precede a desobediência, que engloba a desobediência e confunde toda e qualquer explicação e compreensão. É por isso que toda a purificação é uma anedota. E uma anedota bárbara ainda por cima. A fantasia da pureza é aterradora. É demencial. (...) Tudo quanto estava a dizer à cerca da mancha era que ela é inelutável. (...) as criaturas inevitavelmente manchadas que nós somos. (...)”

3 comentários:

  1. O autor é sempre uma referência.

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  2. "É espantosa a quantidade de coisas que não sabemos. E mais espantoso ainda é o que passa por saber.”
    Deixamos marca, independentemente do que se faça... gostei muito do texto

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  3. Desde que nascemos até morrermos deixamos a nossa "mancha" que pode ser positiva ou negativa e nenhum ser humano pode afirmar que sabe tudo porque o mundo está em constante mudança.
    Leva-me a crer que o autor é completamente avesso (falta-me a palavra certa) sobre a "purificação". Aceito e respeito mas também lhe digo que todos os seres humanos precisam de acreditar em algo...nem que seja um búzio e ou um calhau que encontram no caminho. Somos todos diferentes mas tão iguais e este autor faz aqui um caldinho um pouco não sei não, mas lá está é o seu acreditar...a "sua mancha humana".

    Não sei se me fiz entender mas sinceramente com leituras deste género fecho o livro porque não me leva a lado algum...aprender! Concordas?

    Beijocas garota linda

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