O riso.
Sempre um gozo.
Dissimulado.
Gargalha.
Olho por cima do ombro.
Não o vejo.
Lá está outra vez - o riso.
Viro-me repentinamente e parece-me vê-lo a dobrar a esquina.
Camisola azul, chapéu de marinheiro.
Corro até lá.
Nada.
Sempre um gozo.
Dissimulado.
Gargalha.
Olho por cima do ombro.
Não o vejo.
Lá está outra vez - o riso.
Viro-me repentinamente e parece-me vê-lo a dobrar a esquina.
Camisola azul, chapéu de marinheiro.
Corro até lá.
Nada.
A voz.
Irritante e indecifrável.
Diferente do gozo do riso.
É zangada – a voz.
Abano a cabeça.
Não quero ouvir.
E o som aumenta.
Invade.
“Vai-te embora!” – grito.
“Vai-te embora!” – grito.
O riso.
Outra vez.
O gozo.
O gozo.
Estão a olhar para mim.
Não posso deixar que me levem outra vez.
Eu calo-me.
A voz não.
Não percebo o que diz.
Confunde-me.
Autoritária.
Não posso deixar que me levem outra vez.
Eu calo-me.
A voz não.
Não percebo o que diz.
Confunde-me.
Autoritária.
Sei que quer que me sente para ler.
Não tenho nada para ler.
O pai vai zangar-se comigo!
O pato Donald está zangado comigo!
Procuro desesperado o livro.
Não há livros na rua.
Não tenho nada para ler.
O pai vai zangar-se comigo!
O pato Donald está zangado comigo!
Procuro desesperado o livro.
Não há livros na rua.
Tenho de me sentar a ler.
De repente o riso.
O gozo.
O gozo.
Outra vez.
“Vai-te embora!”
“Cala-te!”
O volume sobe, do riso, ruído estridente, que arranha os ouvidos por dentro.
Grasnar agudo e irritante, insuportável.
Tapo os ouvidos, sacudo a cabeça, pára por favor!
“Cala-te!”
O volume sobe, do riso, ruído estridente, que arranha os ouvidos por dentro.
Grasnar agudo e irritante, insuportável.
Tapo os ouvidos, sacudo a cabeça, pára por favor!
“Nuno, Nuno”
Abro os olhos e vejo que é o senhor Manuel que me agarra os ombros e me resgata da espiral louca em que estou.
Conhece-me desde pequeno, sabe do que se passa comigo e nunca se riu. É diferente do meu pai, nunca me bateu, nunca me obrigou a ler aqueles livros coloridos, cheios de animais que falam, e “dele” o pato rabugento, zangado, e inútil. O meu pai, o inútil, que me obrigava a ler enquanto se fechava no quarto ao lado de onde vinha um cheiro quente e enjoativo. O meu pai morreu no quarto ao lado enquanto eu lia um livro aos quadradinhos. O meu pai é o inútil.
Ouço o riso, mais baixo.
O Sr Manuel nunca se riu.
Abro os olhos e vejo que é o senhor Manuel que me agarra os ombros e me resgata da espiral louca em que estou.
Conhece-me desde pequeno, sabe do que se passa comigo e nunca se riu. É diferente do meu pai, nunca me bateu, nunca me obrigou a ler aqueles livros coloridos, cheios de animais que falam, e “dele” o pato rabugento, zangado, e inútil. O meu pai, o inútil, que me obrigava a ler enquanto se fechava no quarto ao lado de onde vinha um cheiro quente e enjoativo. O meu pai morreu no quarto ao lado enquanto eu lia um livro aos quadradinhos. O meu pai é o inútil.
Ouço o riso, mais baixo.
O Sr Manuel nunca se riu.
Este era um tema bem diferente e não me pareceu que fosse possível tratá-lo de uma forma assim séria. Gostei muito!
ResponderEliminarImaginação e talento de sobra.
ResponderEliminarBoa semana
Fabuloso!!!
ResponderEliminarBeijos
Muito bom!
ResponderEliminarBoa semana, dona Boop.
É psicótico ou psicadélico... sem dúvida, psi-qualquer coisa... Também podia ser o Joker, não? :)
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