Em "O livro das Semanas" do meu amigo David Rodrigues |
(o texto meu)
Sentado no velho cadeirão de orelhas do seu quarto agora escuro olha, pela janela aberta para deixar entrar o fresco da noite, para a cidade que ao longe parece um um mar de luzes silencioso.
O escuro em que a floresta se transforma nas horas nocturnas, cria um negro fosso que o faz sentir distante. Gosta, cultiva até, esta ideia de isolamento. Tenta apagar a fulgurante vista diurna, em que consegue distinguir as manchas de pinheiros, carvalhos, eucaliptos, uma ou outra clareira, e em que consegue desenhar, mesmos sem o ver dali, o pequeno rio que atravessa o arvoredo. Domina os trilhos, sabe da localização de alguma tocas, e onde pode, com sorte, avistar um veado, ou um javali, ou onde pela manhã os coelhos abundam.
Mas a noite... a noite mostra-lhe as luzes da cidade.
Ele conhece a cidade.
Sabe-lhe o pulso acelerado e a respiração vibrante.
A cidade é mulher.
Seduz. Conquista.
Observa-a de longe.
Talvez.
Se.
O computador está ao alcance da mão.
Meia dúzia de mails e consegue encontrar-se com a rapaziada.
Há quanto tempo não tem um baralho na mão, e o sabor adocicado e seco do álcool na boca.
Meia dúzia de clics.
E.
A mão acaricia a superfície fria do portátil.
Talvez.
Se.
Acende um cigarro.
Levanta-se e vai à varanda.
O ar que respira cheira à erva cortada no final do dia, e as cigarras preenchem todos os silêncios.
E não.
Não são o suficiente para aplacar as suas inquietudes.
Simplesmente sublime.
ResponderEliminarBfds
Gostei muito de ler.
ResponderEliminar: )