quarta-feira, janeiro 27, 2021

76 anos depois


 Hoje celebra-se o 76º aniversário da libertação de Auschwitz.

Não terei nada de muito novo para dizer sobre o holocausto.

Mas tenho a certeza de não querer deixar esquecer.

Não esquecer o que o homem pode fazer ao homem.

Nem todos os oficiais da SS eram psicopatas. Nem todos os soldados alemães ou os seus aliados eram homicidas recalcados com sede de sangue.

Mas a história ensinou-nos o quão vulnerável e influenciável é o ser humano, e o que uma liderança megalómana e perversa, que usa o poder e o medo como arma, implacável e letal, leva os seus semelhantes a fazer.


Eu...

Humildemente leio.

Primo Levi, Bohumil Hrabal, João Pinto coelho, ...

Leio na urgência do não esquecimento e da não repetição.

Impotente, leio!

E fico doente! Fico doente quando na "literatura" se tenta romancear Auschwitz. Por uma tinta cor-de-rosa, da literatura de cordel, contando calorosas histórias de amor/coragem. Vergonha! Sinto vergonha alheia pelo desrespeito pela tremenda desumanidade ali vivida. 

Espero (na maior expressão da palavra esperança) que lá tenham existido momentos de amor, de coragem, de humanidade. Que essas centelhas tenham permitido que muitos não tenham sucumbido. Mas recuso a pacificação, a adulteração, a normalização, desse momento negro da história do Homem.

Não podemos esquecer!

Lembro as palavras de Primo Levi: "Viajámos até aqui nos vagões selados; vimos partir em direcção ao nada as nossas mulheres e as nossas crianças; reduzidos a escravos, marchamos mil vezes para trás e para diante, numa fadiga muda, já apagados nas almas antes da morte anónima. Não temos regresso. Ninguém deve sair daqui, pois poderia levar para o mundo, juntamente com a marca gravada na carne, a terrível notícia do que, em Auschwitz, o homem teve coragem de fazer ao homem.“

Na fotografia: O dia 10 de maio de 1933 marcou o auge da perseguição dos nazistas aos intelectuais, principalmente aos escritores. Em toda a Alemanha, principalmente nas cidades universitárias, montanhas de livros (ou suas cinzas) acumularam-se nas praças. Hitler e seus cães amestrados pretendiam uma "limpeza" - a purificação radical da literatura.

Por amor a uma literatura não purificada continuarei a ler!

Por carolice continuarei a crer na potencialidade do Homem para transformar e criar novos mundos.

Por temor e amor aos meus filhos e às gerações vindouras não quero deixar esquecer.



7 comentários:

  1. Era pequenita quando ouvia falar. Mas muito pouco sei à cerca do tema!
    -
    Do sombrio se afastam as nuvens altas
    .
    Beijo, e uma boa tarde!

    ResponderEliminar
  2. Hitler foi, na minha opinião, o maior criminoso do mundo. Os bunkers que mandou contruir na Alemanha e não só, hoje na sua maioria abandonados, são a prova viva do seu idealismo e carácter maldito.
    Os milhões de pessoas que morreram à sua ordem causam arrepios. Que a sua alma apodreça na quinta dos infernos. Maldito seja.

    Cumprimentos
    .
    Deixando um abraço
    Cuide-se
    .
    Pensamentos e Devaneios Poéticos
    .

    ResponderEliminar
  3. Nunca li o Primo Levi, mas está à minha espera em Lisboa. Visitei Auschwitz e Birkenau há uns anos e foi aflitivo ao ponto de ter pesadelos na viagem de regresso.
    Há um filme que queria ter visto sobre a relação entre um guarda SS e uma presa, salvo erro baseado em factos reais, se os cinemas não tivessem fechado. Se me lembrar do título venho aqui dizer.

    ResponderEliminar
  4. Liebe war es nie ("amor não era" tradução minha). Ainda bem que falei disto, pois acabei de descobrir que o documentário está online até ao fds. (mas é em alemão) https://tvthek.orf.at/profile/Liebe-war-es-nie/13892452/dokFilm-Liebe-war-es-nie/14079499

    ResponderEliminar
  5. Auschwitz tenho dificuldade em falar ou comentar sobre isso, apesar de achar bem que se fale nisso para mostrar a quem não sabe, aquilo que o "homenzinho" fez uma vez na história, e que infelizmente vai repetindo pelo Mundo :((( !!!

    ResponderEliminar
  6. Ainda não tive coragem para visitar o local.
    Um dia, talvez...

    ResponderEliminar
  7. Ainda não era nascida, mas apesar do Salazar proibir muita coisa sobre o assunto os meus pais falavam muito sobre o assunto bem como as bombas atómicas que os EUA lançaram sobre cidades de Japão.
    Por volta dos meus 16 anos li tantos livros sobre o assunto que referes que só parei num que não consegui acabar: "Os médicos Malditos". Nunca tive coragem de visitar o local e muito menos ver filmes sobre o assunto, bastou-me ver tantas imagens e conhecer três sobreviventes deste horror que contaram a realidade sentida na pele.

    Sempre falei às filhas e às netas mais velhas e sobretudo do horror que vivi numa guerra civil.

    A actualidade mundial mostra-me que mandantes/políticos etc. que nasceram e cresceram em absoluto desconhecimento "sentido" fazem o que fazem e dizem o que dizem deveriam ser mais tolerantes. Por cá temos "tipos e tipas" que nos 30 e 40 anos julgam-se os maiores e acho que viveram sempre em berço de ouro e deveria haver uma lei obrigatória de aprendizagem: Visitar esse marco da história e outros e ficarem por lá uma semana ou um mês para sentirem. Acho que muitas ideias extremistas desapareciam logo. MALDITOS!!!!

    Beijos

    ResponderEliminar