domingo, junho 20, 2021

16/40 Os Vampiros


Para mim ler BD não é uma prática habitual e na sua maioria das vezes não me encanta.
Mas os livros do Felipe Melo e do Juan Cavia são outro campeonato!

(Pronto, também admito que não conheço muita BD, e que devem existir muitas pérolas por aí que eu desconheço!)

Este livro "Os Vampiros" é magnifico!

O negro que se impõe (mesmo que não seja obvio pelas vinhetas que escolhi para ilustrar este post) modela de imediato a tonalidade afectiva com que se pega nesta obra. 
O negro que evoca a noite. A noite do sol que se põe, mas não só, também a noite da distância , a noite do medo, a noite do esquecimento, a noite do segredo, a noite do remorso, a noite da culpa, a noite da selva, a noite da loucura, a noite da morte. O negro que vem como esse eterno desconhecido que devora a esperança e a sanidade.

O livro traz-nos homens sem infância e sem amor. 
Ou fala-nos da clivagem necessária para sobreviver com a morte como companheira. E diz-nos do elevado custo do deixar de parte tantos aspectos tão fulcrais da existência humana - a inocência, a esperança, a empatia, o reconhecermo-nos no outro mesmo que seja diferente na língua e na cor da pele. 
Um mundo onde os sonhos acabam invariavelmente por virar pesadelos, e onde a fronteira entre o pesadelo e a realidade é muito ténue.
O que é matar, o que é matar-me, o que é morrer. O viver a mando de outros, sem poder pensar nem questionar, porque sozinho não se é nada, e porque a morte espreita.
O  medo que não pode ganhar espaço sob a pena de abrir lugar para a loucura.

Sem resvalar para o sentimentalismo traz-nos a realidade crua como só as coisas simples podem fazer.
As imagens têm um poder enorme.
Dizem mais do que muitas palavras.
Cada vinheta traz um condensado de associações e sentimentos, algumas são murros no estômago. 

As personagens estão muito bem definidas. E com mestria, num ou noutro episódio ao longo do livro, em poucas palavras ficamos a saber de cada uma delas. Do que as faz estar numa guerra com que pouco ou nada se identificam, do que as faz ficar, do que as empederniu. 

A história...
A história leva-nos para a guerra colonial, para a Guiné, num possível (nunca confirmada empiricamente) destacamento português com uma missão no Senegal que se revela uma armadilha do destino. 

Não digo mais nada!

Decididamente: A LER !

4 comentários:

  1. Pela resenha acredito que seja um livro com uma narrativa muito interessante de ler.
    .
    Um domingo feliz. Abraço
    .
    Pensamentos e Devaneios Poéticos
    .

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  2. Tenho que descobrir.
    Porque gosto de BD e não conheço os autores.
    Boa semana

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  3. Adorei a tua análise. Vou aproveitar o imaginário da "noite" para as minhas aulas, (posso?). Está perfeito. Quero ver se na próxima ida a Lisboa trago o outro livro deles, o da Sophie.

    Conheces o *Vozes anoitecidas* do Mia Couto? Tb tem todo esse jogo de escuro/claro, luz/sombra.

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    1. Desculpa, não te respondi agora!
      Ó moça, claro que podes.
      Aproveita o que te apetecer!

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