quinta-feira, agosto 12, 2021

Majestoso


 O som é o das cigarras, permanente, quase ensurdecedor se nele nos fixarmos. Às vezes pára repentinamente o que nos leva a perceber que apenas um ou dois desses pequenos bichos enchem tão amplamente o ar.

Há também o piar dos pássaros, uns cantam, outros em sons curtos e menos melódicos comunicam algo para sempre inacessível ao meu entendimento humano. Todos os anos, várias vezes ao ano, tenho pena de não saber identificar as aves, acho-as seres especiais, talvez por essa magia rara de vencerem a gravidade e poderem dançar num espaço de liberdade azul (depois lembro-me/sei que este conceito de liberdade, de voo, de infinito azul é um resultado do pensamento e percebo, mais uma vez, que o que tantas vezes invejo é essa possibilidade de existir sem elaborações, sem passado nem futuro, com o primado do biológico, no aqui e agora)

Um outro som muito diferente me chega.

Um som grave, pesado, descompassado. Da terra seca a ser pisada despreocupadamente por um animal de grande porte.  

Levanto os olhos do meu livro e sigo com o olhar a direção do som.

E ele aparece, majestoso.

É sempre esta a palavra que me ocorre quando olho para um cavalo.

Um belo exemplar. Possante. Pelo bem tratado, de um castanho sedoso com reflexos dourados. A crina e a cauda escuras estão soltas. Com uma total indiferença à minha presença a poucos metros, procura no solo alguma coisa com que se entreter.

Num momento raro, repara em mim.

Capturo-o numa imagem que se irá perder rapidamente na história.

O que fica é esta calma dos dias.

O calor do verão, e os sons que permanecerão para além de mim.



3 comentários:

  1. Adoro cavalos. Felizmente já cavalguei quilómetros e quilómetros.
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    Saudações cordiais
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    Pensamentos e Devaneios Poéticos
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  2. Um momento mágico e também gosto muito de aves e de cavalos. Escreves e descreves super bem.

    Beijos e um bom dia

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