Siri Hustvedt fala como poucos do mundo dos psis (psiquiatras, psicanalistas). Sabe traduzir em palavras fluidas e simples a complexidade que resulta do transpor do pensamento analítico para a vida pessoal. Como ser-se psicanalista não é uma profissão, há uma mudança de paradigma que se opera no pensamento e se instala de mansinho. É impossível não se saber o que se sabe!
Traz-nos tudo isto através da história de um homem, da sua família, dos seus amores.
O livro tem aspectos encantadores, como a relação com a menina de 5/6 anos que se muda para a parte de casa que aluga.
Mas Siri introduziu uma ou outra linha na história que para mim seriam dispensáveis. Um “mistério” que acompanha o livro do princípio ao fim e que pouco acrescenta à narrativa. É um pretexto para visitar a infância das personagens, mas não precisava dele.
De relevar as últimas páginas do livro. Num estilo distinto, num registo de associação livre, é exposto o pensamento desassossegado de Erik. Quase sem parágrafos as ideias sucedem-se, e revisitamos todo o livro, todas as personagens, com a tonalidade afectiva certa. Estão brilhantes estas últimas páginas.
(Gostei mais do “Verão sem homens”)
SINOPSE
Ao tentarem pôr ordem na casa do pai recém-falecido, Eric e a irmã, Inga, descobrem um bilhete de uma mulher desconhecida. Algo no teor desse bilhete indicia que um segredo do passado continuava a atormentar Lars. Erik vê na solução desse enigma o derradeiro acto de aproximação a um homem que nunca compreendeu, mas tanto a vida dele como a de Inga estão a atravessar fases muito complicadas. Inga, viúva de um escritor famoso, está disposta a tudo para defender a reputação do marido e reaproximar-se da filha, Sonia, terrivelmente marcada pela memória dos atentados do 11 de Setembro. Por seu lado, Erik materializa a sua própria solidão num mantra espontâneo que o embaraça mas em relação ao qual nada pode - "Sinto-me tão só", repete ele, mas poderiam ser todas as personagens desta Elegia a dizê-lo; nova-iorquinos solitários, perdidos no frenesim da grande metrópole, entregues aos seus segredos, memórias e sonhos, incapazes de qualquer acto de reconforto.
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