Fragmento do livro Debaixo de algum Céu de Nuno Camarneiro |
Eu 14, tu 16
Eu 44, tu 46
30 anos passaram
Não sei exactamente quando tu te tornaste TU para mim.
Vi miúdas a apaixonarem-se por ti. Vi-te entusiasmado com os primeiros passos nos relacionamentos "adultos" (que este é um blog familiar). Soubeste dos meus namoros, da minhas ânsias. E respeitaste o meu espaço quando alguém se sentiu ameaçado pela proximidade que tínhamos.
E embora recorde idas à praia, passeios a cavalo, tiros com pressão de ar em Sintra, passeios pelo estádio nacional, ..., onde eu acho que a nossa história se foi sedimentando e crescendo e tornando mágica, foi nas escadas do teu prédio.
Tantas e tantas horas passamos sentados no patamar do 1º andar. Tu e Eu.
Não sei se mais alguém se juntava a nós nessas horas perdidas (perdidas só por intemporais). Não me recordo - a memória é selectiva e tende a reconstruir-se de acordo com o nosso desejo.
A tua mãe bem nos convidou a entrar... eventualmente desistiu.
E ainda hoje és guardião de quem eu sou.
Sem escadas...
Ainda hoje recebes as minhas ânsias, entendes os meus passos sinuosos, acalmas as minhas angústias. Acarinhas os meus segredos.
És reduto da adolescência das verdades despidas.
És lugar para pensamento.
Estás longe e tão perto.
30 anos, e para ti continuo "apenas eu"
30 anos, e tu és TU para mim.
E por isso mesmo não sendo particularmente bonitas as escadas da tua casa.. é nelas que penso quando leio "Rien n'est plus beau dans les maisons anciennes que les escaliers."
Que bonito! É por estas e por outras que não me importo de ter memória de peixe. Li isto e pensei "realmente escadas antigas têm todo um encanto" e li o que escreveste e pensei "que bom que é reveres a tua história a propósito de umas escadas" e depois é que reparei que vem no Camarneiro!
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