quinta-feira, setembro 10, 2020

32/35 Claraboia

 


“Clarabóia” de José Saramago estava na estante do meu consultório (não querendo mentir) há uns dois anos....
Estava com umas 40 páginas lidas (que foram naturalmente relidas) e encostado na prateleira.

Voltei a ele!
Lembro-me de ter gostado bastante de “Terra de pecado” o seu 1.º livro publicado em 1947, mesmo que nele não se encontre ainda o estilo que veio a marcar a escrita de Saramago.
Este, “Clarabóia”, foi rejeitado pelo editor em 53, e JS recusou-se a publica-lo enquanto fosse vivo.
Foi publicado em 2011.

A princípio pareceu-me fraquito... personagens fáceis e caricaturais de um Portugal apequenado pelo regime. Vizinhos de um prédio, que para além das suas vidas “normais” (quase normopatas) se entretêm com os assuntos alheios que emprestam algum colorido aos dias.
Mas depois os personagens adensam-se. Ganham profundidade. E deixa de ser o que se passa dentro de portas alheias o cerne da questão. Passamos para o mundo interno de cada um. Com os seus desejos, anseios, historias, heranças, segredos (não no sentido mesquinho, mas no de “secreto”)...
Não é, de longe, o livro que mais gostei de JS, mas foi uma muito agradável surpresa!

Neste, talvez pela ainda imatura carreira do escritor, percebe-se claramente que foi introduzida uma personagem que traduz o olhar de Saramago.
Dizem as críticas que li que esse personagem será o sapateiro Silvestre, que traz consigo os ideais sociais que associamos à vida de JS. - sem dúvida que filosoficamente sim - está lá!
Mas depois há o Abel - o jovem correcto, céptico, desencantado, desapegado, com uma crítica fria à possibilidade de encontro, redenção, pertença, amor. 
É no diálogo entre Silvestre e Abel que se espelha JS - a utopia no encontro inevitável com a realidade da experiência.

Fiquei contente por lhe ter dado uma nova oportunidade! 😊


8 comentários:

  1. Eu e o Saramago não dá mesmo.
    Não consigo gostar.
    Bfds

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    1. Li-o pela primeira vez porque não tinha mais nada para ler. Estava de férias com uns colegas de faculdade, 15 dias numa maravilhosa aldeia no meio do nada. É uma colega terminou “O Evangelho segundo Jesus Cristo” e eu peguei nele. Não achei a leitura fácil, nem o livro é o melhor dele, mas deixou espaço para mais! O meu preferido “As intermitências da morte”
      Mas ainda bem que não gostamos todos do mesmo!
      :)

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  2. O que eu acho extraordinário é a velocidade que tu lês. Comecei no início do Verão a ler A Caverna e até vou bem lançada, mas primeiro que o despache, vai demorar.

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    1. Mas tu fazes mil outras coisas que eu não faço! :)
      Quando viajo gosto de levar um livro que se passe na cidade que visito. É outra maneira de conhecer o meu destino. E é tão bom parar num jardim, ou num café, e ler a cidade!
      Olha a pesquisa que já teria de ter feito se viajasse tanto quanto tu!
      ;)

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  3. Imagino um bom livro!! :))
    -
    Será o destino mais forte do que o pensamento
    .
    Beijos, e um excelente fim de semana. :)

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    1. Gostei bastante.
      Mas Saramago ainda ia crescer tanto como autor!!!

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  4. Como te disse, hoje leio muito pouco. Mas esse faz parte da minha biblioteca e gostei imenso !!

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    1. Tem muito bons momentos. Afinal estava a nascer um futuro Nobel...
      ;)

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