quarta-feira, fevereiro 01, 2012

Às vezes... Pessoa.


Às vezes, em dias de luz perfeita e exacta,
Em que as coisas têm toda a realidade que podem ter,
Pergunto a mim próprio devagar
Porque sequer atribuo eu
Beleza às coisas.

Uma flor acaso tem beleza?
Tem beleza acaso um fruto?
Não: têm cor e forma
E existência apenas.
A beleza é o nome de qualquer coisa que não existe
Que eu dou às coisas em troca do agrado que me dão.
Não significa nada.
Então porque digo eu das coisas: são belas?

Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver,
Invisíveis, vêm ter comigo as mentiras dos homens
Perante as coisas,
Perante as coisas que simplesmente existem.

Que difícil ser próprio e não ser senão o visível!

Alberto Caeiro

4 comentários:

  1. senão o visível
    alberto, também pastor...
    vivo só de viver...
    excelente

    abrazo serrano em dia de chuva

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  2. Actualmente só "às vezes" leio Pessoa, mas fizeste uma belíssima escolha.

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  3. A beleza estava completamente dentro dele!

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  4. A eterna discussão sobre a essência das coisas. Elas existem por si só ou existem porque as vemos? Este Pessoa era mais filósofo do que a gente podia imaginar.

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