O momento para que tinha trabalhado anos a fio
chegara!
Respirou
fundo e entrou no teatro.
Por momento
quis ser pequenina, tirar os sapatos e sentir na planta dos pés o toque da
alcatifa carmim, e esquecer-se assim do que a trazia ali.
Foi chamada
à realidade pela orquestra em afinações. Ouvia-se o toque de vários
instrumentos naquele desarranjo melódico de sons descompassados que pareciam
ecoar a sua própria turbulência.
Ainda
tinha algum tempo.
Enquanto
reproduzia a música na sua cabeça nota a nota, procurou dentro de si os
pensamentos que a ajudavam a serenar. O seu preferido, e mais eficaz, era a
memória do toque da camisola de caxemira que o pai usara no dia do casamento do
tio Fernando. Devia tê-la usado mais vezes, mas guardou para sempre o momento
em que lhe pediu colo e se aninhou nos seus braços de caxemira azul. O Azul. O
Azul também a acalmava.
Está
na hora.
Em
passos falsamente seguros pisou o palco.
Lembrou-se
de sorrir quando as palmas encheram a sala para a receber.
Cumprimentou
o maestro, que num piscar de olho a tranquilizou, como quem diz “Vamos, menina!
Toque!”
Chegou
ao seu lugar, sentou-se ao piano.
Poisou
os dedos no marfim e soube que estava preparada.
Disse
para si própria.
“Este
momento foi feito para ti!”
e foi feito mesmo para ti:) Lindíssimo e até ouvi os acordes do piano:)
ResponderEliminarBeijocas e bom fim de semana