domingo, janeiro 25, 2015

O amor é um circo de feras




O café da aldeia continuava a ser frequentado pelo Francisco.
Mas não ao Domingo.
A Otilia tinha deixado de ir à missa, o Pe Manuel não se coadunava com modernices, e tinha a opinião que os dois viviam em pecado.
Mas é uma terra de gente pacífica. e nos silêncios das tardes quentes, todos partilhavam aquelas coisas de que ninguém falava. Que é o amor faz a vida valer a pena, que o prazer e a dor são duas faces da mesma moeda, e que quem não arrisca amar e sofrer, vive esta vida apenas pela metade.
E por isso olhavam para o Pe Manuel com alguma compaixão. Pobre homem nunca ia saber do prazer de amar uma mulher, nunca ia saber que as conversas dos homens sobre as mulheres são puros exercícios de camaradagem, e que o verdadeiro gozo está no silêncio dos abraços e do calor de nunca se saber só.
Pouco a pouco a ausência do Tó do Lagar tinha deixado de se fazer notar. Sabia-se que os terrenos, as oliveiras e os lagares estavam abandonados, mas a verdade é que ninguém se chegava perto. Corria o rumor que eram de um homem que tinha ido atrás do amor. Talvez voltasse!
O Francisco voltava ao café.
Sentava-se na mesa da esplanada e às vezes dava consigo a pensar, que tinha a impressão de que nunca tinha feito nada que batesse certo, que nunca tinha dado um passo que fosse o correcto, mas tinha acertado no amor, e nunca tinha querido tanto a ninguém!

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1 comentário:

  1. Ora bem, pelo menos acertou no amor. Mais um pedacinho desta pérola e um dia tem de virar num livro:)

    Beijocas e bom domingo

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