sábado, julho 11, 2015

Debaixo da roupa estamos todos nus.

Este é o título de uma crónica do José Luis Peixoto, publicada já há uns anos, na verdade não sei bem onde. Falava ele da sua pele, tatuada e furada (piercings), e do preconceito explícito ou intuído, nos olhares dos anônimos que com ele se cruzam.

Tive uma vez um paciente que logo na 1ª sessão me pediu (avisou?) "não toque nas minhas tatuagens" Acabámos por falar nelas eventualmente, ou talvez mais sobre esta defesa da pele marcada, o conteúdo foi um dia explicado por ele, livremente e sem pressão.

Mais difícil é falar de cicatrizes, memórias de doença e sofrimento, não escolhidas e não planeadas. E de como se toca e deixa tocar esse corpo marcado. Como se ama após a doença, Como se expõe o corpo a terceiros depois dos acidentes. Corpo que não se reconhece, sentido como estranho, feio, morto.

Mas na verdade cicatrizes todos temos.
Visíveis ou não.
E por baixo da roupa todos estamos nus.
E o mostrar o corpo a alguém é um acto de entrega.




4 comentários:

  1. Olá, Boop
    Bonita reflexão sobre o corpo e suas marcas. Há corpos que parecem um livro: cicatriz de quedas de infância, cicatriz de operação, sinais do tempo, desenhos bonitos, ou não, feitos para assinalar algo importante, ou coisa nenhuma: tudo fala do corpo e do dono do corpo, quando ele despe a roupa e mostra o corpo nu.
    As cicatrizes de doenças e sofrimento é que não deveriam ficar guardadas - devia haver um processo, como nas tatuagens indesejadas, para se apagar do corpo e da alma o que nos traz à lembrança coisas ruins.

    bj amg

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  2. Inêsamiga

    Há doenças que nos marcam para a vida inteira; concordo contigo: Por baixo da roupa estamos todos nus...

    Mas retomando o que escrevi acima: Durante cinco anos e seis psiquiatras padeci duma depressão bipolar hoje felizmente estabilizada

    As cicatrizes na pele são muito más; mas piores são as cicatrizes da vida...

    Qjs do alfacinha

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  3. Excelente e que subscrevo. Mais palavras para quê?

    Beijocas

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  4. Sim, entregamo-nos se mostrarmos as feridas, mesmo que nao sejam as de fora. Que entrega seria essa sem o mostar?

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