quarta-feira, julho 20, 2016

Amar-te na tempestade

Carlos Farinha   Piano Alto   2016 

Às vezes dentro dela sopravam ventos atrozes.
Vagas de afectos, assolavam-na impiedosas, sem aviso nem previsão.
E como se de artes negras se tratasse, a luz do sol sumia-se, não a deixando ver para além de si. E a magia escapava-se-lhe por entre os dedos das mãos.
Nessas alturas valia-se da única defesa que tinha - as palavras.
Nem sempre úteis as palavras...
Quem disse que as palavras são fieis amigas que nos permitem exorcizar fantasmas, ou traduzir o que por dentro se passa?
Não valem nada as palavras sem o gesto, o tom, o olhar.
São estéreis e tendenciosas. Impregnadas de pré-conceitos e sujeitas a leituras idiossincráticas!
São só palavras.

Percebeu (ensinou-lhe ele) que para se amar na tempestade era precisa a música. Que na música as palavras se reinventam, que se lê o intervalo entre elas, que às vezes, para sua grande surpresa, nem eram precisas.

Queria escrever uma música só para ele
Encontrar a canção perfeita.
Mas do meio da tempestade só conseguiu gritar-lhe, escolhendo o gesto, o tom, olhando com toda a ternura esperando que ele a lesse, palavras simples, para que não houvesse enganos:
- "Gosto muito de ti!"


https://www.youtube.com/watch?v=uv86TawSeEQ


2 comentários:

  1. Um quadro da vida tão real, tão directo, tão duro...mas sucumbem perante sinceridade e verdade dos actos. Uma música excelente e não digo mais nada para não estragar as tuas palavras.

    Beijocas

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  2. Já estive para comentar este post várias vezes, mas fui protelando. Será por ter gostado muito?

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