sexta-feira, maio 26, 2017

O Retorno

O Retorno de Dulce Maria Cardoso - Tinta da China
Eu nasci nos anos 70.
Numa família em que não se falava muito (nada) do que foram os tempos das ex-colónias ou do 25 de Abril, ou de retornados.
O meu pai estava a terminar a tropa quando pararam de enviar gente para África. Já não foi. E isto é tudo o que sei.

Não tenho idade para me lembrar de factos históricos, nem de convulsões sociais. E não tive na minha meninice quem deles me falasse na primeira pessoa.
Não que não tenha familiares que tenham vivido na pele tudo o que se passou neste pais, na Alemanha, onde se refugiaram, ou em Angola ou Moçambique, onde se estabeleceram tiveram filhos até se virem obrigados a regressar. Mas não me falavam sobre nada disto.
Não sei se haverá família neste país que não tenha na sua história, de meados do seculo passado, um pedaço do que se fala neste livro. De um lado ou de outro. Dos que foram, dos que ficaram, ou dos que partiram à revelia.

Eu, fui sabendo histórias, mais ou menos fugazes, de este ou daquele. Fui crescendo com os bairros de lata perto de casa ou da escola como se tivesse sido sempre assim. E percebendo pouco a pouco que não... que há história, que há politica, que há sonhos, desilusões, lutos, pátrias, vidas interrompidas, amores, memórias de sabores, cheiros, cores, sensações, e que nunca se volta ao mesmo lugar. (ou é o lugar e/ou o próprio que mudaram tanto que não se reconhecem).

Também fui lendo livros e espreitando assim para a vida de outros.
Este livro de Dulce Maria Cardoso contou-me uma história. Com a habilidade de me fazer saber muito para além do que descreveu.
Gosto de um livro assim, que nos permita juntar a nossa experiência, ou curiosidade, ou saber, e assim acrescentarmos mais uma centelha ao complexo rendilhado de dados com que lemos o mundo.

E evoquei amigos, tios, primos, com quem me sento a conversar, com quem rio, choro, em quem confio (não em todos na mesma medida, claro está!) mas que nunca me falaram desta fatia das suas histórias. E não foi por não saberem, ou não poderem, acho...
Talvez porque eu era uma criança... ou eramos todos...
Não sei.

Bom livro!
Não achei brilhante, mas é um bom livro!




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