terça-feira, setembro 22, 2020

Qualquer dia...

Há mais de uma semana que não leio. Tenho quatro livros começados espalhados pelos meus cantos prediletos de leitura, Rubem Fonseca, Thomas Man, Teresa Veiga e Gregory Maguire, esperam-me serenos, alheios que estão das minhas vontades e desejos. Os quatro autores não podiam ser mais destintos entre si. 
Separam-nos décadas, oceanos, estilos, a uni-los estou Eu.

Entretenho-me a imagina-los em pausas similares, protelando o mergulhar na trama densa e absorvente de uma história, ao mesmo tempo que os personagens continuam presentes, como se se encontrassem juntos, autores e heróis, num terraço num qualquer lugar indefinido, com um chá de menta e biscoitos de manteiga, em silêncio de olhar perdido no horizonte.
Entranham-se, fundem-se, criador e criação, num processo elaborativo semi-consciente, onde o recurso a máquina de escrever, caneta, ou computador, quebraria a magia de um enamoramento lento, o caldo criativo de onde nascem todas as ideias.

Ou talvez seja eu, qual narciso mirando-se nas águas, que em auto-referenciação procuro uma absolvição para a minha paragem injustificada, que deixou as vidas que preenchem as páginas dos livros interrompidas.
Encontro em mim traços de Hans Castrop, saído directamente da Montanha Mágica, o livro que me ocupa a cabeceira. Estarei como ele com a vida suspensa, retirado, longe do mundo, saltitando entre a mais profunda reflexão filosófica sobre a temporalidade e a fragilidade humana, e a cor do batom que torna tão apelativa a boca de Clawdia.
Ou talvez esteja só um passo atrás, com Ada, a amiga de Alice, que no universo recriado por Maguire a vê desaparecer na toca do coelho e mergulha no seu encalço.

Personagens são como apetrechos inanimados, soltos, quase esquecidos numa caixa de ferramentas, aptos a serem reanimados quando necessários.
Talvez não precise deles agora. Ou simplesmente não queira a sua companhia.

Os livros continuam fechados.
Qualquer dia...

4 comentários:

  1. Gostei muito e fiquei com vontade de ler :)

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  2. Os livros são aqueles amigos fiéis que esperam sempre por nós, não há pressa.

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  3. Há algum que não leio livros também, o último livro que li foi "Elis & Eu", de João Marcello Bôscoli, filho de Elis Regina que escreveu sobre passagens de sua vida com sua mãe até o dia em que ela morreu. Gostei do livro, que comprei há uns dois meses, porque gosto da Elis e qualquer material sobre ela me interessa. Mas tenho escrito mais do que lido! :)

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  4. eu tbm ando demasiado preguiçoso no que às leituras diz respeito.

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