Um paciente ofereceu-me este livro por altura do Natal. Oferta com bastante significado, mas cuja exploração não terá lugar aqui 😉
E foi hoje o dia de lhe pegar!
José Tolentino Mendonça tem uma escrita clara e acessível. A minha formação católica permitiu-me aceder rapidamente a todas as alusões feitas ao longo do texto, mas faz também com que o leia com alguma (desnecessária) condescendência.
As referências no texto a autores que muito admiro foi-me alimentando: Primo Levi, Fernando Pessoa, Clarice Lispector, Antoine Saint-Exupéry, Melanie Klein, …
Algumas passagens revelaram-se mais interessantes (enquanto outras, mais doutrinais foram lidas de fugida ou saltadas à frente).
Ressalto uma reflexão que relaciona a pressa/lentidão com a memória e a capacidade de caminhar devagar até à fonte. E como esta dicotomia traduz a minha prática profissional. O ultrapassar a vertigem do tempo que se escoa, para encontrar um tempo de encontro e de reconstrução da narrativa (isto digo eu, não o Tolentino), para a criação de novas referências essas sim transformadoras.
Uma outra em que me demorei mais um pouco foi a exploração do desejo como motor, mobilizador.
Um aspecto que sempre me faz confusão no discurso do clero é a idealização da figura da mãe - que se torna mágica, capaz de tudo entender e de tudo transformar. Falta-lhe a experiência seguramente - da frustração, da desilusão - e o conceito tão bem concebido de Winnicott da “mãe suficientemente boa”
Deixo-vos o excerto que mais gostei:
“…a literatura é um instrumento de precisão, como existem poucos, pois está à altura da singularidade, liberdade e tragicidade da vida (na verdade consegue relatar o eu e o nós, o ardentemente pessoal e a aventura colectiva, mas também a graça e o pecado, o encontro e a solidão, a dor e a redenção).”
O nosso Cardeal é um homem extraordinário.
ResponderEliminarBoa semana