Nos primeiros capítulos acompanhou-me uma sensação de frustração. Nunca tinha lido Richard Zimler e queria mesmo que me surpreendesse! Queria gostar de o ler, assim como gosto de ouvir o Alexandre Quintanilha. Aliás foi curioso que às vezes me pareceu ler (ouvir?) o pensamento do Quintanilha - será o que naturalmente acontece quando duas pessoas vivem juntas muitos anos (?)
Mas depois a história cativou-me.
Traz-nos uma temática que me diz alguma coisa (Por ter coincidido com o início da minha vida profissional e me ter colocado muitos desafios) - a proliferação nos anos 90 do HIV, as mortes anunciadas, os corpos a cederem a um vírus ainda pouco conhecido e contra o qual tínhamos na altura muito poucas armas. Felizmente esse cenário mudou muito, o HIV é uma doença crónica com a qual se pode aprender a viver, e com bastantes qualidade de vida.
O livro traz uma outra questão que quero salientar. Porque me incomoda, me provoca angústia, me faz questionar sobre o que é “normal” afinal (desculpem a necessidade desta coisa do “normal”…) - a forma como é vivida a sexualidade (aqui homo, mas bem podia ser num registo hetero). Como a angústia e a destrutividade é vivida através do sexo. Como os corpos são “usados” (não de uma forma necessariamente negativa) como veículos de descarga independentemente da relação afectiva. Como procuramos (todos?) no encontro com o outro (com o corpo do outro) uma completude impossível, um tampão para um desamparo primordial.
Há no livro cenas de grande violência, de impotência perante a agressividade do outro, de como o medo se transforma em soco, e deixa a nu a solidão e o desamparo.
Há uma tentativa de compreender a homofobia, mas essa compreensão obriga a um tipo de cedência.
Felizmente vamos evoluindo, enquanto sociedade, no sentido de uma diminuição da descriminação … lentamente…
O livro foi escrito em 1995 (exactamente o ano do meu estágio) mas publicado aqui em Portugal apenas em 2020 - foram precisos 25 anos…
SINOPSE
Depois da morte de muitos dos seus amigos, um professor de guitarra clássica, mundano, judeu e antiga estrela da equipa de basquetebol de Greenwich Village, decide abandonar os Estados Unidos e procurar uma nova vida em Portugal. Mas aquilo a que ele chama o eclipse viral da sexualidade persegue-o até ali, quando António, o seu mais talentoso aluno, testa positivo para VIH e ameaça desistir da vida aos vinte e quatro anos. Desesperado por mostrar ao jovem que ele ainda tem um futuro pela frente, «o Professor» organiza uma viagem de carro com destino a Paris, esperando ser capaz de convencer um virtuoso a aceitá-lo como aluno. O pai de António, um homem rígido e presença distante na sua vida, decide acompanhá-los e, de passagem, os três mergulham num triângulo de aventuras, violência e revelações pessoais. Será que de caminho vão encontrar uma oportunidade de redenção?
Publicado originalmente em 1996, e inédito até agora em Portugal, Insubmissos é um romance vívido e intimista que ousa dar luz a temas que ainda persistem nas sombras.
Publicado originalmente em 1996, e inédito até agora em Portugal, Insubmissos é um romance vívido e intimista que ousa dar luz a temas que ainda persistem nas sombras.
Insubmissos
ISBN 978-972-0-03385-7Edição/Reimpressão 10-2020Editor: Porto EditoraIdioma: PortuguêsDimensões: 152 x 235 x 23 mmEncadernação: Capa molePáginas: 356
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