quinta-feira, janeiro 13, 2022

2/40 A casa das belas adormecidas

 “A casa das belas adormecidas” transporta-nos para os pensamentos noturnos de Eguchi, um homem de 67 anos a braços com a tarefa de envelhecer.

Livro publicado em 1961 - há 60 anos - pôs-me de imediato uma questão: não se é velho aos 67! (Não para mim!) Questão que me inquietou ao longo de todo o livro. Quem define o “velho”? Que peso social/cultural existe no olhar para o envelhecer. E para a sexualidade tantas vezes confundida com (im)”potência”.

A casa das belas adormecidas é um lugar onde os “velhos” vão para dormirem com raparigas novas. As mulheres/meninas são virgens e estão profundamente adormecidas, podendo ser alvo de todo o tipo de projeção. Os “velhos” não são “perigosos” porque impotentes.

Eguchi recusa-se a ser equiparado aos outros velhos, porque nele o sangue corre ainda forte, mas ao mesmo tempo vai sendo enfeitiçado por estas noites castas (apenas nos actos), e nelas vai revisitando a sua própria história. 

Uma dança sofrida entre o desejo másculo de posse e de soberania, e a percepção latente de um envelhecimento inevitável. É a morte que se aproxima de mansinho, e os lutos sucessivos que se adivinham na despedida de quem Eguchi foi.

O contemplar das jovens que dormem suscita em Eguchi desejo, ternura, mas também o põe em contacto com o seu sadismo, o seu desespero, e a morte (companheira constante). No contacto com os corpos adormecidos, quentes e nus, também a dor é visitada, a dor interna da perda, da solidão, do desamparo.

Vale a pena ler!


SINOPSE 

Abandonadas em camas, jovens mulheres nuas, intocadas e intocáveis, dormem profundamente sob o efeito de poderosos narcóticos deixando, sem o saber, que o seu corpo seja contemplado por homens idosos em busca de uma pobre consolação para a perda de juventude. Eguchi, de 67 anos, tem perfeita noção da proximidade da decadência física, e as noites passadas nesta casa do desejo levam-no a recordar a relação com as diferentes mulheres da sua vida, num entrelaçar de memórias e fantasias eróticas que culminam com a revelação da sua essência inumana.

A Casa das Belas Adormecidas, obra-prima profundamente perturbadora, que encerra um universo erótico fascinante e assustador, inspirou outros autores a escrever sobre os afectos e a sexualidade na terceira idade, nomeadamente Gabriel García Márquez no seu Memória das Minhas Putas Tristes.


A Casa das Belas Adormecidas 
ISBN 9789722061872Editor: Dom QuixoteIdioma: Português Dimensões: 155 x 234 x 11 mmEncadernação: Capa molePáginas: 160Tipo de Produto: LivroClassificação Temática: Livros em PortuguêsLiteratura Romance 







3 comentários:

  1. Mais umm livro sobre as "Gueixas" e as suas vidas dentro da sociedade japonesa.

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  2. O universo das geisha sempre foi um fascínio fora do Japão.

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  3. Acho que esse livro foi impedido pela ditadura e li-o "na cadonga emprestado por um amigo" tinha eu os meus 15/16 anos ainda em Angola. Nunca gostei do "mundo" das geishas em que muitas eram obrigadas a tudo e mais alguma coisa.
    Beijocas e um bom dia

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