domingo, janeiro 30, 2022

4/40 O Chão dos Pardais


 

Em dia de eleições li quase todo o romance de DMC “o chão dos pardais”
Uma história contada a várias vozes.
As vozes que mais me interessaram foram, infelizmente, as que menos expressão tiveram.
Queria saber mais sobre a confusão de línguas/linguagens. Esse desencontro que acontece quando dois interlocutores não comunicam num mesmo nível, mesmo acreditando que sim.
Sobre Clara, que se apaixona por uma rapariga com quem não partilha quase nada. Falam línguas diferentes. E ao contrário de Clara, Elisaveta, vinda de um país distante, nunca se tinha encantado por uma mulher.
Adivinha-se a descoberta de formas de se dizer(em). De um encontro identitário, de conflitos internos geradores de tumultos incomunicáveis.
Sobre Manuel, que encontra o amor numa mulher que de tão inacessível (por morar do outro lado do mundo) é idealizada/fantasiada e pode por isso ser depositária de toda a sua verdade, de uma forma desarmada, quase inocente. A intensidade da relação virtual, sentida como tão autêntica mas que não resiste à prova da realidade, e o desencanto acontece no momento do encontro.
Mas estas acabam por ser questões secundárias que dão suporte à história contada.
(O livro tem também algumas reflexões desnecessárias por tão óbvias.)
No entanto é sempre um prazer ler Maria Dulce Cardoso.
Não é o livro que mais gostei dela.
No topo está o “Retorno” logo seguido por “Eliete” (cuja sequela aguardo com curiosidade!)



SINOPSE

Afonso é um homem muito poderoso. Inatingível. A não ser pelos anos, que passam e o envelhecem quase como a outro qualquer. Há muito que já só encontra a juventude nos corpos das amantes. Como o de Sofia, que o odeia e ama Júlio. Entretanto Alice, a mulher de Afonso, desistiu, nem sabe ela bem de quê.
Os filhos cresceram e partiram, sem partir. A filha, Clara, traduz livros inúteis e apaixona-se por Elisaveta. O filho, Manuel, é um cirurgião plástico à espera de ser julgado por negligência e entregue ao amor adiado por uma mulher longínqua com quem se encontra no ecrã do computador. Mas tudo está perfeito na festa dos sessenta anos de Afonso.
Antes e depois dessa festa, antes e depois da tragédia que a estraga, o romance dá conta das forças que atiram umas personagens contra outras. Seja para se amarem ou para se odiarem.
E, vertical, por entre todas as forças, a força da gravidade que estatela no chão os corpos que caem. Mesmo assim, parece simples ser feliz.



O Chão dos Pardais
ISBN 9789896712181Editor: Tinta da ChinaIdioma: PortuguêsDimensões: 144 x 199 x 20 mmEncadernação: Capa duraPáginas: 256

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